A gente tem que escolher ponderar quando preciso, mas gritar e lutar quando necessário

Hoje quando você acordou escolheu abrir os olhos e levantar. Você até poderia ter se entregado, um pouquinho que seja, à tentação de uma cama quente em um dia frio, mas não quis assim. Todos os dias você decide um milhão de coisas. São pequenas decisões como “tomar chá ou café”. “Vestir essa ou aquela roupa”. “Mudar de caminho ou tentar o que parece mais cômodo”. Todos os dias você escolhe. Escolhe gritar ou calar. Levantar e virar a mesa ou sentar e chorar. Você decide ir ou ficar. A decisão é sua. A vida está sempre te dando novas chances.

Até quando você não escolhe, escolheu não escolher. Um cachorro não poderia escolher ser diferente do que é. Não poderia ignorar o instinto que nele fala tão alto. Um lobo nunca poderia deixar de uivar. Um pássaro não poderia negar o voo característico da sua espécie, mas nós humanos sim. E sabe de uma coisa? Há uma beleza imensa nisso. Uma beleza sobre-humana em decidir, por mais doído que isso possa parecer. Um dia a gente abre os olhos e decide ir além. Decide testar toda nossa humanidade e fazer diferente. Decide assumir as rédeas do coração e cortar os carboidratos e pessoas tóxicas da nossa rotina diária.

Um dia a gente resolve chacoalhar a poeira e ama essa ideia de escolher, apesar dos dissabores. A gente decide que existem outros olhos, outras peles, outras paisagens. A gente decide sentir um prazer imenso em ser o que somos e tira os espinhos dos pés sorrindo. A gente cansa de caminhar sobre brasas. A gente cansa de sorrir enquanto chora por dentro. A gente entende que precisa escolher o melhor para nós. Que a gente precisa ser cuidadoso com as nossas escolhas. Que elas podem nos levar para perto ou longe de nós.

A gente escolhe ser feliz com o que a gente tem. A gente escolhe com um baita medo, mas escolhe. A gente escolhe se aninhar no próprio peito e entende que todas as respostas estão dentro da gente e que só cabe a nós escolher as melhores, as mais sinceras e gentis. Aquelas que nos dizem a verdade sem nos desmerecer.

Um dia a gente tem que parar de querer ser outra coisa que não a gente. A gente tem que parar de invejar pedra, planta e bicho e tem que ser tudo que é. Um dia a gente tem que escolher fazer amor com a nossa natureza. Ser gentil com o outro desde que essa gentileza não nos esmague como pessoas. A gente tem que escolher ponderar quando preciso, mas gritar e lutar quando necessário. Não há fórmulas para o resgate da nossa humanidade, a única verdade é que ela exige uma coisa imprescindível: escolher.

Escolha.

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Atribuição da imagem: pixabay.com – CC0 Public Domain

 







Vanelli Doratioto é especialista em Neurociências e Comportamento. Escritora paulista, amante de museus, livros e pinturas que se deixa encantar facilmente pelo que há de mais genuíno nas pessoas. Ela acredita que palavras são mágicas, que através delas pode trazer pessoas, conceitos e lugares para bem pertinho do coração.