Freud tinha razão: sobre Eros, o sexual, e Thanatus, a morte

Sobre Eros

Sabem porque é que o Leão copula com a Leoa? Porque tem um desejo sexual instintivo por ela, e ela por ele. Nunca copulariam com o intuito reprodutivo de garantir a sobrevivência da sua espécie, como entenderão. Não fora este desejo sexual instintivo e esta espécie não sobreviveria. O mesmo acontece com o macaco, que não copula com a macaca por frete, para subsistência da sua espécie, mas por um desejo sexual instintivo e incontrolável, que impede ambos de não o fazerem.

E assim sobreviveram e sobrevivem as espécies. É razoavelmente credível que o instinto de vida encontre aqui a sua mais irrecusável expressão, já que na ausência desta condição a sobrevivência da maioria das espécies não poderia ter tido lugar.

Acontece que o homem não se fica pelo instinto, ele é o único animal que tem uma representação mental elaborada do instinto e da sexualidade nele enraizada – Uma psico-sexualidade. Elaborada e de que maneira. Sei que não vos faltará a imaginação para perceberem do que estou falando; e o problema é esse: tanta elaboração mental também criou uma pesada moralidade, até certo ponto necessária, para frear os excessos do instinto.

O tabu do incesto, para não perder mais tempo, é prova definitiva das aflições em que se tem visto o animal homem, desde que representou mentalmente o instinto sexual e avaliou as suas expressões e consequências. A força do tabu, como entenderão, só é necessária para frear um desejo de igual intensidade.

Ora não fora a excessiva sexualização que atribuíram à sexualidade proposta por Freud, ou seja, não fora o olhar intensamente moralizante com que avaliaram e avaliam a sexualidade proposta por Freud – que até cometeu o pecado de destituir a criança, como perverso polimorfo, do seu consagrado estatuto até aí ocupado, como anjo assexuado –, seria mais fácil perceber uma coisa simples: Freud mais não fez do que integrar o homem na cadeia da natureza animal de que faz parte, onde sobreviveu do mesmo modo que as outras espécies, através de um instinto sexual, tendo em conta que, a par do grau de desenvolvimento que a sua inteligência assumiu, este instinto adquiriu uma complexa e conflituosa expressão, ao nível da representação mental – Questão que a pulsão conceptualiza; a pulsão de vida, que tem como representante uma libido sexual sublimável.

Sobre Thanatus

Depois temos um outro conceito, que instaura a dualidade pulsional mais além do princípio do prazer, que é o conceito pulsão de morte, que é antes de mais a tendência para a constância originária, ou uma irreprimível “vontade” de retorno ao estado de inorganicidade e, portanto, de morte. Este é, por ventura, o conceito de Freud mais difícil de compreender e aceitar, que aliás muito poucos mostram compreender.

Como acredito que a descoberta pessoal é o único processo efetivo para a aquisição de certos conhecimentos, principalmente os de difícil aceitação, fica por vossa conta uma mais profunda exploração desta parte, que completa o quadro que configura as dimensões mais elementares e abstratas, sobre as quais se alicerçam todas as consequentes e complexas expressões da vida mental humana.

Fiquem apenas com esta incitação: o homem, dotado de um inexorável instinto de vida, começa na verdade a morrer a partir do momento em que nasce, como de resto todos os outros animais, da cadeia natural em que se integra; mas é o único que tem consciência disso e por isso conta o tempo.

Para finalizar resta constatar que, de natureza inexorável, da integração destes processos decorre a evolução da nossa espécie, naquilo que de mais fundamental a condiciona.







Psicólogo Clínico Psicanalítico, ex-docente universitário de Psicanálise e de Técnicas Projetivas, presentemente trabalha exclusivamente em clínica privada - Psicoterapia Psicanalítica. É director clínico do site de atendimento psicológico online: Psiconline.pt - Serviços de Psicologia e Saúde Online.