A força que move o mundo

Carrego comigo uma porção de dúvidas. São questões existenciais que me acompanham, me desacomodam, fazem parte de mim e para as quais nunca tenho uma única resposta certa.

Não sei, por exemplo, o que teria acontecido comigo se meus pais não tivessem se conhecido. Eu, de fato, teria deixado de existir ou teria experimentado a honra de ser convidada por outra família para vir ao mundo? E se acontecesse a segunda opção, seria minha alma em outro corpo? Com quem eu me pareceria? Será que eu nasceria mulher?

Não sei dizer… Às vezes acho que eu teria dado meu jeito de nascer em outro corpo. Outras vezes, penso que o mundo não teria tido o privilégio de me conhecer. Mas, a verdade é que essas respostas não existem.

Ainda dentro dessa mesma lógica, minha mente, curiosa, insiste em questionar: o que levou minhas duas avós ao mesmo quarto de hospital? O que levou meus pais a visitarem suas mães no mesmo dia e horário? O que fez os dois se apaixonarem em tão pouco tempo?

Felizmente, para essas questões, a vida já me deu resposta. Quando se trata de coisas do destino, há uma certeza que me aquieta e me basta: sei que existe uma força dando corda neste mundo. Sei que essa força é tremenda o bastante para superar qualquer um de nós. É ela que move a natureza e sua perfeição. E ela que dá, aos seres humanos, a direção.

Aliás, de tanto pensar, concluo que a natureza e os seres humanos são indivisíveis. Além de serem guiados pela mesma força, ainda se assemelham.

O que é o chão seco do deserto senão o homem na dureza da solidão? O que é um furacão senão o calor descompassado de nossa fúria devastando outras vidas? O que é a chuva mansa senão a paz de espírito? O que é um rio senão a vida rumo ao futuro? O que é um tsunami senão o copo de nossa paciência preenchido pela última gota d’água?

O que é o vento senão o deslocamento e a varredura de tudo aquilo de que queremos nos libertar? O que é um vulcão em plena erupção senão uma mulher em plena TPM? O que é a brisa senão um sopro agradável de esperança? O que é a neve senão a rigidez de algo vital? O que é o mar senão sonhos e planos em movimento?

O que são os grãos de areia senão a representação de cada um de nós no Universo? O que é uma rocha senão a dureza de nossos corações? O que é o céu estrelado senão o mais profundo mistério da nossa fé? O que é o Sol senão o calor do amor que nos arde no peito? O que são as tempestades senão os desafios e obstáculos da vida? O que é o arco-íris senão a beleza da vida na forma de recompensa?

Meus pais habitavam seus desertos; a neve caiu sobre suas mães; o rio conduziu seus destinos ao hospital; o sol brilhou na vida dos dois; a tempestade tirou uma avó de mim; o mar se encarregou de melhorar as coisas; o arco-íris, desde aqueles dias, vem nos surpreendendo.

Sei que há, em outras mentes por aí, explicação lógica para tudo isso. Respeito, profundamente, todas as formas de pensamento. Existem tantas possibilidades de tentar compreender a vida… Mas, escolho não saber. Às vezes, o intelecto puro atrapalha. Prefiro dar voz ao coração (que, a propósito, também é impulsionado por alguma força) e crer no invisível e confiar no incompreensível. A sensibilidade me oferece mais certezas do que os olhos.

E você, caro leitor, se concordar com a existência dessa força superior a que me refiro, tem a liberdade de chamá-la como quiser. Eu, simplesmente, sinto que seu nome é Deus.







Educadora com formação em Letras Português/Inglês e foquei minha carreira na alfabetização durante quinze anos. Porém, um câncer de boca (localizado na língua) me afastou da sala-de-aula e me fez descobrir o dom que adormecia em mim: a escrita. A doença me deu tempo e uma história para contar. Resolvi registrar no papel como o câncer me curou, transformando-me em alguém melhor. Assim nasceu o livro Impactos do Câncer, que foi lançado no final de 2015. Desde então, sigo escrevendo sobre o que meu coração manda, porque sinto que é essa a contribuição que sei deixar para o mundo.