“A Felicidade bate na porta, mas não gira a maçaneta”

Nesse carnaval, estive com minha família visitando meu sogro. Ele mora numa cidadezinha bem pequena no interior de São Paulo, onde me sinto completamente em casa. Lá a internet funciona mal, e por isso meu filho ficou sem computador e celular. A televisão também não pega bem, e portanto passávamos a maior parte do tempo conversando, ouvindo o barulho das galinhas e lendo. Bebíamos vinho, andávamos descalços e íamos para a praça tomar sorvete. Sentávamos no banco do jardim e tínhamos a sensação de que o tempo demorava a correr. Me lembro de pensar que estava entendendo tudo, que tudo fazia sentido, que não havia mais espaço para nenhum descontentamento. Que finalmente eu havia “deixado pra lá” tudo o que um dia me perturbou. Que eu estava equilibrada, e todos ao meu redor também. A felicidade havia batido na porta e todos nós havíamos girado a maçaneta.

Ser feliz é uma decisão, um trato com o bem estar apesar de tudo que o possa ameaçar. Pois a alegria vem e vai, mas permanecer feliz independente da dança dos dias é um compromisso que assumimos dando boas vindas aos prazeres e delícias, mas também aceitando com paciência todas as falhas, faltas, tristezas, tédio e saudades que fazem parte do pacote que é a existência.

Não é a ausência de tristezas e decepções que torna alguém feliz. Se fosse assim, ninguém estaria apto a receber a tal felicidade. O primeiro passo para ser feliz, independente dos altos e baixos que nos cercam dia a dia, é o empenho em encontrar contentamento interno apesar das nuvens carregadas, dos lugares vazios ao nosso lado, dos desejos insatisfeitos e das bagagens pesadas.

Como eu disse, no carnaval tive tempo para ler. E por um “feliz acaso” (Serendipity), levei comigo o livro de uma amiga. Apesar de já ter assistido ao filme inúmeras vezes, nunca tinha lido o livro “Comer, rezar, amar”, de Elizabeth Gilbert. Achava que o livro não teria nada a acrescentar, e por isso não me interessava muito. Porém, para minha grande surpresa, a obra me arrebatou. E chegou na hora exata, vindo de encontro com o momento que estou vivendo, de busca de equilíbrio e, consequentemente, felicidade. Lyz, a autora e personagem, sai de um divórcio complicado, seguido por uma paixão arrebatadora que não deu certo, e segue para uma jornada que inclui a Itália, a Índia e a Indonésia. Em cada um desses lugares ela tem um tipo de experiência, e me encantei profundamente com sua transformação na Índia. Não tenho o desejo de viver uma experiência semelhante, mas _ ao acompanhar sua busca espiritual, e suas dificuldades no início, quando ainda estava muito ligada aos últimos acontecimentos de sua vida (portanto muito marcada pela dor e muito guiada pelo ego) _ pude compreender que o caminho para uma vida equilibrada e feliz depende muito mais de nosso empenho e esforço pessoal do que simplesmente estar à espera de um golpe de sorte que venha acrescentar algum tipo de alegria momentânea à nossa vida.

A felicidade é feita de tijolinhos, e inclui o equilíbrio entre mente, corpo, coração e espiritualidade. Buscar esse equilíbrio tem um preço, e requer disciplina e muita coragem. Os ingredientes tanto da felicidade quanto da infelicidade estão igualmente presentes em todos nós, cabe a cada um decidir qual irá prevalecer. Para ambos os caminhos, é preciso muito esforço e insistência.

Embora não pareça, é preciso um grande esforço para ser infeliz. O infeliz tem que se empenhar para viver no passado, remoendo suas dores, se ressentindo de seus traumas, não abandonando suas mágoas. O infeliz se recusa a sorrir, gasta sua energia planejando vinganças, carrega uma nostalgia melancólica e não consegue encontrar alegria no presente. Ele prefere criticar a acolher, julgar a aceitar, se vitimar a se transformar, fugir a enfrentar, viver de saudades a viver realizado.

Também é preciso empenho e insistência para ser feliz. A felicidade bate na porta, mas não gira a maçaneta. Quando decidimos acolher a felicidade, precisamos ter um ambiente propício para isso. Um lugar em que corpo, mente, coração e espírito estejam fortalecidos, para que a felicidade não escape pelas frestas ao primeiro sinal de contrariedade. A felicidade é consequência de um esforço pessoal, e para tanto precisa de pulmões limpos e coração tranquilo; ideias claras e pensamento positivo; desapego dos traumas e das satisfações sem volta do passado; e finalmente, de perfeita comunhão com Deus.

Que você exercite o corpo e distraia a mente. Que procure ajuda caso se encontre num estado de depressão e precise de terapia ou medicamentos. Que leia bons livros, assista a bons filmes, que evite as notícias sangrentas e sensacionalistas na tevê. Que se conecte moderadamente à internet, e que encontre amigos reais com quem possa contar. Que ouça músicas e se encante com a poesia. Que dance até ficar com o cabelo ensopado, e não se desespere por causa da política. Que se apaixone por si mesmo, e leve isso em consideração quando encontrar alguém com quem deseje dividir uma parte de sua vida. Que borrife perfume nos pulsos e espalhe shampoo nos cabelos, mas que nunca deixe de ficar arrepiado ao sentir o cheiro característico de alguém que ama. Que encontre formas de se conectar a Deus, e que isso se torne uma prática constante na sua vida. Que você encare as circunstancias desafortunadas de sua vida com jogo de cintura e otimismo e que, finalmente, escolha bem seus pensamentos, descobrindo que ninguém pode fazer tanto mal a você quanto você mesmo… Be happy!

Imagem de capa: mimagephotography/shutterstock

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Escritora mineira de hábitos simples, é colecionadora de diários, álbuns de fotografia e cartas escritas à mão. Tem memória seletiva, adora dedicatórias em livros, curte marchinhas de carnaval antigas e lamenta não ter tido chance de ir a um show de Renato Russo. Casada há dezessete anos e mãe de um menino que está crescendo rápido demais, Fabíola gosta de café sem açúcar, doce de leite com queijo e livros com frases que merecem ser sublinhadas. “Anos incríveis” está entre suas séries preferidas, e acredita que mais vale uma toalha de mesa repleta de manchas após uma noite feliz do que guardanapos imaculadamente alvejados guardados no fundo de uma gaveta.