Estamos sabendo agradecer por aquilo que temos?

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Provavelmente, muitos de nós, em algum momento de nossas vidas, perguntamo-nos e buscamos dentro de nós entender qual é a nossa missão, para tentar entender a nossa jornada e o que estamos fazendo aqui.

Imagino que nos questionamos isso porque acreditamos que as nossas vidas têm um significado, que elas têm sentido, que têm algum propósito que seja maior que nós mesmos, que tudo é mais profundo do que a superfície que estamos vendo.

Desejamos tantas coisas, temos tantos planos e sonhos para o nosso futuro e sobre a vida que queremos construir para nós mesmos. Não nos fazemos de rogados e queremos ter logo o pacote completo. A nossa casa com a cerca branca, um casamento perfeito, aqueles filhos lindos, com cachorro e tudo. Teremos o nosso ‘felizes para sempre’, afinal, não é aí que o filme termina?

Acreditamos que podemos atingir um estágio, em nossas vidas, onde a felicidade é plena, onde ela é um destino, um lugar estático. Aprendemos, no nosso mundo materialista, que ter ambição é uma coisa boa, pois é assim que chegamos a algum lugar, afinal de contas. Então, queremos, além disso, bastante dinheiro, tipo ganhar na mega-sena da virada, sabe, mais do que poderemos gastar em uma vida. Queremos isso, só isso.

Será que a gente se escuta? Nutrimos tantas ideias, tantos sonhos, tantas projeções de uma vida que, infelizmente, é completamente irrealista, pois não tem nenhuma ligação com a realidade e com o que é possível alcançar em uma história, em uma trajetória de vida.

Sendo assim, por que ainda traçamos uma trama, um enredo, na nossa cabeça, fadado ao fracasso, a naufragar antes mesmo de sair do porto? Por que nos animamos dessa forma com uma decepção anunciada, eu realmente não sei. Mas construímos, sim, às vezes sem nos darmos conta disso, castelos na areia, que apenas uma onda abala e leva.

Há uma diferença colossal, há um abismo entre querer e realmente precisar. Sim, grande parte das pessoas, da humanidade, aliás, desejou, em algum momento, isso ou alguma dessas coisas. Somos humanos e podemos nos deixar levar com certa facilidade pela nossa mania de grandeza, nosso desejo de não sermos pessoas comuns, de sermos famosos, conhecidos, de não vivermos uma vida no anonimato ou vazia de significado.

Queremos tanto e tanta coisa, que não sabemos por onde começar, mas, vamos ser honestos? Por mais que a gente queira, nós não precisamos disso tudo para nos sentirmos plenos, felizes e realizados com a vida que criamos. Não mesmo.

A gente gasta tanta energia tentando ser algo que não somos, buscando uma perfeição que não existe, atrás de um ‘modelo’, de uma lista imaginária que (achamos) temos que fazer para alcançarmos a felicidade, a realização, para termos uma vida bem sucedida. Perdemos tanto tempo tentando ser absolutamente tudo, tudo menos aquilo que nós somos.

Acredito que, mais importante do que nos prendermos a algo que não existe, estarmos presos a uma miragem, a uma ideia fora da realidade, é começarmos a investir as nossas fichas, a focar em algo que podemos trabalhar dentro de nós, algo sobre o que podemos ter algum tipo de controle, pois depende única e exclusivamente de nós.

Temos que nos desviar das cascas de banana, do autoengano, da negação, e aprendermos a nos sentir plenos, a nos sentir contentes com a vida e as escolhas que fizemos para chegar até aqui. Só quando nos permitimos nos sentir gratos pelo que colhemos é que conseguimos trazer mais abundância para as nossas vidas.

Reconhecer e agradecer pelo que se tem, pelo que fomos agraciados, é um movimento, um ato fundamental de humildade e, sem ela, não chegamos muito longe.

Veja, sentir-se pleno é um exercício, é mudar o mecanismo sobre o qual estamos acostumados a pensar, em que medimos o nosso sucesso e o nosso fracasso de acordo com as coisas que temos, de acordo com o dinheiro que possuímos, com apenas realizações materiais.

É começar a ver as coisas de uma outra forma, é aguçar o seu olhar para compreender o que realmente tem algum valor e isso não necessariamente anda junto com dinheiro – na maioria das vezes, não anda.
Sentir-se pleno é aprender a se sentir grato, aprender a se sentir agradecido por tudo aquilo que você tem, por aquilo que você construiu até aqui, pelas pessoas que você tem ao seu redor, pelas oportunidades que a vida lhe deu e por aquelas que foram negadas também. Mas é aí que somos testados, que somos convidados a refletir, a aprendermos um pouquinho mais sobre o que é ser paciente, a vermos até onde vai a nossa fé, até onde estamos comprometidos com os nossos propósitos.

Gratidão de verdade, sem hashtags, sem legenda para o pôr do sol, é algo muito difícil de alcançar, é um processo. É agradecer diariamente pelas pequenas coisas que a vida nos dá, pelas pequenas conquistas.

É acordar pela manhã e agradecer por estarmos vivos, por termos saúde, por termos mais uma oportunidade, um dia novo, mais uma folha em branco para poder (re)começar.

É tomar banho e agradecer por termos um emprego para irmos todas as manhãs, onde podemos desempenhar um trabalho, onde temos a oportunidade de servir e ser útil.

É tomar café e agradecer pelo nosso alimento na manhã e continuarmos agradecendo mentalmente, ao longo do nosso dia, pelas graças que recebemos, por cada momento, todos os dias.

E, um dia, iremos nos dar conta de que não estamos apenas agradecendo, mas que a gratidão, em si, já faz parte da gente, já está não só incorporada ao nosso dia a dia, como na nossa rotina, mas que realmente a sentimos dentro da gente, agradecidos, gratos diariamente pela vida que temos, pelo mundo que criamos para a gente.

Gratidão pela vida que escolhemos, pelos caminhos que nos trouxeram até aqui, pelos amigos que temos ao nosso lado, pela família com que a vida nos presenteou e pela que criamos também.

É uma força que revoluciona as nossas vidas, que põe as coisas em perspectiva e na medida certa, pois ela traz aceitação daquilo que somos, de quem nos tornamos. Que faz com que nos sintamos, gradativamente, dia após dia, realizados, com a sensação de plenitude, por nos sentirmos satisfeitos com a vida que nos foi dada, confiada e com o que conseguimos fazer, com o que conseguimos realizar com essa oportunidade oferecida.







Vivo entre a ponta da caneta e o papel, entre o clique no teclado e a história que desabrocha na tela. Sempre em busca da palavra perfeita, do texto perfeito e do livro perfeito. Acredito no poder curativo da música e de um bom livro. Cinéfila, apaixonada por séries, Los Hermanos e filmes do Woody Allen.