De vez em quando aparece uma minissérie que não só domina o catálogo por algumas semanas, como mexe com hábitos fora da tela. Foi o que aconteceu com O Gambito da Rainha, produção lançada em 2020 que transformou um jogo clássico em assunto de bar, de redes sociais e de lojas de brinquedo.
Em pouco tempo, a história da enxadrista Beth Harmon virou referência quando se fala em qualidade de roteiro, atuação e direção — e, de quebra, ajudou a popularizar o xadrez de um jeito que não se via há décadas.
Hoje, mais de cinco anos depois da estreia, a minissérie continua firme entre os títulos mais lembrados da Netflix. E há um motivo concreto para isso: ela quebrou recordes.
De acordo com dados divulgados pelo próprio serviço e por veículos especializados, O Gambito da Rainha alcançou cerca de 112,8 milhões de visualizações nos primeiros 91 dias, tornando-se, na época, a minissérie mais assistida da história da plataforma antes de ser ultrapassada por produções posteriores.

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Uma adaptação que levou três décadas para sair do papel
O caminho até a Netflix foi longo. O romance “The Queen’s Gambit”, de Walter Tevis, foi publicado nos anos 1980, e desde o início havia interesse em adaptar a história para o audiovisual.
O produtor Allan Scott comprou os direitos ainda no começo dos anos 1990 e passou anos tentando viabilizar o projeto em diferentes formatos, sem sucesso.
A virada acontece quando a Netflix decide bancar o projeto, com Scott Frank à frente do roteiro e da direção.
A partir desse ponto, a adaptação finalmente sai do rascunho para a produção efetiva: sete episódios, lançados em outubro de 2020, ambientados entre os anos 1950 e 1960, acompanhando a ascensão de Beth Harmon, uma órfã com talento absurdo para o xadrez e um histórico complexo de dependência química.
Essa combinação de bastidores longos com execução muito cuidadosa ajuda a explicar por que a minissérie tem cara de projeto que foi pensado em detalhe, e não feito às pressas só para ocupar espaço no catálogo.
Anya Taylor-Joy no centro de tudo – e muito bem cercada
Um dos pontos mais comentados desde a estreia é a escolha de Anya Taylor-Joy para viver Beth Harmon.
A atriz já chamava atenção em filmes anteriores, mas aqui ganhou um papel que exige mudança de postura, de expressão e de intensidade ao longo de vários anos da vida da personagem.
Cada fase da protagonista — da adolescente introvertida na casa adotiva até a estrela do circuito internacional de xadrez — pede nuances diferentes, e ela entrega isso com consistência.
Ao mesmo tempo, a minissérie cuida para que Beth não vire um “show de uma pessoa só”.
O elenco de apoio é construído com zelo: figuras como Mr. Shaibel, o zelador que ensina xadrez à menina no orfanato, Jolene, amiga de infância, e rivais que se tornam aliados, como Harry Beltik e Benny Watts, ganham tempo de tela suficiente para ter presença real na trama.
Nenhum deles está ali só para servir de escada; todos ajudam a mostrar diferentes lados da protagonista e do ambiente competitivo em que ela se insere.
Esse equilíbrio faz diferença: o público acompanha a trajetória de Beth, mas também entende como as relações em volta dela influenciam vitórias, recaídas e decisões importantes.

Forma de biografia, liberdade de ficção
O Gambito da Rainha tem cara de biografia clássica, mas fala de uma personagem que não existiu. Beth Harmon é criação de Walter Tevis, o que dá a Scott Frank um espaço maior para montar a vida da protagonista do jeito que melhor serve à narrativa.
A minissérie escolhe contar a história de maneira linear, do orfanato à consagração nos grandes torneios internacionais. Essa estrutura facilita a conexão de quem assiste com a evolução da personagem: é possível ver com clareza como traumas, medos, vícios e talentos vão se acumulando.
Ao mesmo tempo, como não há obrigação de seguir fatos históricos, o roteiro tem liberdade para construir partidas, rivais e situações dramáticas que condensam dilemas internos de Beth — sem virar documentário, mas também sem se afastar completamente do ambiente real do xadrez competitivo.
Outro detalhe importante é o cuidado com o jogo em si. A produção contou com nomes como Garry Kasparov e Bruce Pandolfini como consultores, o que ajudou a deixar as partidas críveis e visualmente interessantes tanto para quem entende do esporte quanto para quem nunca estudou uma abertura na vida.
Fenômeno de audiência e efeito fora da tela
Quando a minissérie chegou ao catálogo, o impacto foi rápido. Em poucas semanas, liderou rankings internos da Netflix em vários países e se tornou, segundo a própria plataforma, sua série limitada roteirizada mais vista até então, com dezenas de milhões de lares assistindo no primeiro mês e mais de 112 milhões de visualizações acumuladas em três meses.
Mas o barulho não ficou restrito aos números da tela inicial. Veículos como The Washington Post, The New York Times e outros apontaram um boom de interesse em xadrez logo depois do lançamento: aumento expressivo na venda de tabuleiros, crescimento nas buscas em sites especializados, explosão de novos cadastros em plataformas de jogo online e maior participação de mulheres entre novos praticantes.
Além dos dados de audiência, a minissérie colecionou prêmios importantes, incluindo 11 Emmys, entre eles o de Melhor Minissérie ou Série Antológica, e dois Globos de Ouro, incluindo Melhor Minissérie e Melhor Atriz para Anya Taylor-Joy.
Esses reconhecimentos consolidaram O Gambito da Rainha como uma das produções mais marcantes da fase recente da Netflix.
Nesse conjunto — desempenho de audiência, efeitos no interesse pelo xadrez, reconhecimento de crítica e prêmios — está o motivo pelo qual, mesmo depois de ter seu recorde superado por outras produções, O Gambito da Rainha continua sendo aquela minissérie que muita gente recomenda quando alguém pergunta: “O que vale começar hoje na Netflix?”
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