Dezembro, o mês das catarses

Imagem: Dancing In the Rain by Nicki Varkevisser – Flickr Creative Commons

Dezembro é o mês que enche de compaixão os nossos corações, esvazia nossas carteiras e nos faz refletir novamente sobre o sentido da vida. Temos certa dificuldade com fechamentos, finalizações, conclusões.

Quando falamos de algo que gostamos, não sabemos como parar.
Quando comemos, não queremos que acabe.
Quando amamos, não gostamos de nos despedir.

E assim seguimos, com aquele medo velado dos finais, dos términos e rompimentos, da morte. O ciclo natural vai ficando tanto mais assustador quanto mais próximo do final. Somos assim, seres que brigam e magoam com os pontos finais.

E os dezembros são sempre prenúncios de pontos finais. O ano acaba, as reflexões e conclusões transbordam, para uns, que se vá logo! Para outros, como passou rápido…

Dezembro traz em si a imposição da compaixão, as emoções mais delicadas, o sentido de família, o olhar solidário a todos os povos da terra. Dezembro tem esse apelo.

Dezembro é mês de promessas, de votos, de planos, aquisições, ligações e contatos com gente que há muito não frequenta nossos corações. É mês de confraternizações e reencontros. Também de arrependimentos e perdões.

Em dezembro passam os caminhões da Coca-Cola, iluminados e musicais, e ainda que seja um merchandising batido, os corações estão tão amolecidos em dezembro, que a maioria de nós corre para a janela e realmente tentar captar a tal magia prometida.

Dezembro entorpece, hipnotiza. Faz a gente procurar desafetos, desculpar mal feitos, declarar-se exageradamente ao amigo secreto. Dezembro coloca para fora muito sentimentos retidos, faz a gente chorar fácil, rir escandalosamente, olhar os muros e ver poesia em tudo…

…e escassez! Em dezembro é preciso comprar tudo. Para ter, para dar, para guardar, para esperar, para trocar, para o fim do mundo chegar. O desespero de dezembro é impressionante, mas é a expressão de como lidamos com os finais. Finais que são uma fração de segundo e logo tudo já é novo.

E que dezembro seja paciente com toda a catarse que precisamos fazer para sobreviver aos finais. Logo janeiro fará tudo voltar ao normal!







Administradora, dona de casa e da própria vida, gateira, escreve com muito prazer e pretende somente se (des)cobrir com palavras. As ditas, as escritas, as cantadas e até as caladas.