Depois que encontrou o lobo, a Chapeuzinho nunca mais foi a mesma

Naquele dia ninguém contou à Chapeuzinho sobre o Lobo. Pediram apenas que ela levasse uma cesta cheia de pães até a avó, que morava lá do outro lado da floresta.

O lobo parecia ser alguém interessado em ajudar. Alguém isento de maldades. Foi assim que a chapeuzinho o viu e dessa forma ele a enganou fácil.

Sabem, grande parte de nós caminha pela vida como a “Chapeuzinho”. Desprevenidos, passeamos por aí carregando o melhor de nós até toparmos com algum lobo no meio do caminho.

Vejam bem, confiar não é um erro. Se um outro nos fizer de gato e sapato, o problema de caráter é dele e não nosso. O que é certo é certo e um dia todo lobo dá de cara com algum bom caçador. Calma, eu entendo, às vezes a lei do retorno tarda, mas ela não falha.

O encontro com o lobo mudou a vida da Chapeuzinho. Ela continuou seguindo rumo a casa da avó, mas desde o dia em que conheceu aquele primeiro lobo, ela passou a carregar consigo novas convicções e um punhado de esperteza em cada um dos bolsos. A vida ensina.

Outros lobos vieram. Jogaram conversa fora. Disseram conhecer um outro caminho melhor, mas a Chapeuzinho não caiu na deles. Não, a decisão pelo caminho seria só dela.

Ela não daria atenção aos que lhe fizessem propostas mágicas. Ela sabia que se cedesse à lábia de algum lobo, e confiasse levianamente, poderia prejudicar não só a si, mas também àqueles que a amavam.

Então a Chapeuzinho ouvia o que os lobos tinham a dizer, sorria e continuava em frente. Ela agora era mais responsável e ponderada. Ela sabia que não deveria mudar de percurso ou deixar de visitar à avó pelo que lhe aconteceu no passado. Ela sabia que, à despeito de um certo temor, ela tinha que continuar, passo a passo. Dia após dia. Sempre em frente. Acreditando no melhor, mas de olhos bem abertos.

Ela entendeu que a mais feia das verdades vale mais que a mentira mais bonita. Que, às vezes é preciso que um lobo apareça para a gente acordar e valorizar o que tem de bonito.

A mãe da Chapeuzinho lançou-a na vida desprevenida, confiando em sua boa natureza, mas a avó, entre um gole e outro de café, lembrou-a do lobo sem, no entanto, deixá-la esquecer de que quando foi preciso, a vida sacou da cartola um bom caçador.

A Chapeuzinho aprendeu que nem tudo são flores e que nem tudo são lobos na vida. A Chapeuzinho aprendeu que o caminho do meio é o melhor caminho.

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Vanelli Doratioto é especialista em Neurociências e Comportamento. Escritora paulista, amante de museus, livros e pinturas que se deixa encantar facilmente pelo que há de mais genuíno nas pessoas. Ela acredita que palavras são mágicas, que através delas pode trazer pessoas, conceitos e lugares para bem pertinho do coração.