Quando casais maratonam thrillers e debatem “o que eu faria?”, a conversa costuma ficar no sofá. Mas há um ponto de atenção que psicólogos comportamentais vêm levantando: a normalização de investigações amadoras e do “vale tudo” por justiça — um gatilho que a minissérie Duas Covas explora com precisão e que, fora da ficção, pode reforçar decisões impulsivas e o romantismo da vingança.
No topo global da Netflix, inclusive no Brasil, Duas Covas virou assunto por condensar, em três episódios, uma espiral emocional de fácil identificação para quem vê TV a dois.
Criada por Agustín Martínez, a produção traz Álvaro Morte, Kiti Mánver, Nonna Cardoner e Hovik Keuchkerian em uma narrativa que cresce rápido e convida o espectador a tomar partido a cada cena — combustível típico das discussões entre parceiros.

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A história parte de um vazio: duas jovens desaparecem. Isabel (Kiti Mánver), avó de uma delas, e Rafael Salazar (Álvaro Morte), pai da outra, cansam da lentidão oficial e assumem a investigação por conta própria.
Esse ato, que na ficção rende tensão, toca num hábito comum de casais que consomem true crime: projetar soluções extremas para “corrigir” falhas percebidas no sistema.
À medida que Isabel e Rafael avançam, a série mostra trilhas paralelas de dor, racionalização e risco. O que começa como “vamos descobrir a verdade” desliza para controle, vigilância e revanche.

Para quem assiste em dupla, a identificação vem com facilidade: é o mesmo impulso que transforma uma conversa inofensiva sobre pistas em certezas absolutas e planos hipotéticos que, na vida real, poderiam cruzar limites legais e éticos.
Há um mérito técnico que potencializa esse efeito: ritmo curto, decisões a cada bloco e personagens moralmente pressionados.
Em tela, o improviso dos protagonistas parece funcionar; fora dela, especialistas lembram que “agir por conta própria” costuma aumentar o perigo e atrapalhar apurações, além de alimentar vieses de confirmação — exatamente o atalho psicológico que a série dramatiza.

Elenco e direção ajudam a ancorar o debate. Mánver constrói uma avó movida por perda e lucidez intermitente; Morte dá a Salazar a frieza da lógica e o descontrole que a sustenta.
Juntos, eles exibem a deriva entre justiça e vingança, material que casais replicam em discussões pós-episódio: quem errou, quem passou do ponto, o que “eu faria”.

É aí que mora o risco apontado por terapeutas de relacionamento: transformar fantasia de punição em modelo mental para conflitos do cotidiano.
Em três capítulos, Duas Covas entrega um caso que prende e, de quebra, funciona como espelho. Ótimo entretenimento para ver a dois — desde que o papo da sala não legitime atalhos perigosos quando o assunto é vida real.
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