Cuide da sua vida que da minha cuido eu

A maneira como lidamos com as críticas que recebemos diz muito sobre como somos. Não para quem nos observa através da crítica, mas para nós mesmos.

Se nos incomodamos profundamente com uma crítica, se sentimos raiva e desconforto é porque talvez, em nosso íntimo, concordemos com a crítica, mas não gostamos de admitir.

Quem está plenamente seguro de suas habilidades, potencialidades, personalidade, aparência e escolhas, ou seja, quem está com a consciência tranquila não costuma se abalar ao ouvir algo que não seja compatível com o que pensa de si mesmo e com o que faz. Simplesmente ignora o que ouviu, não sente necessidade nem de argumentar. Não sente necessidade de se explicar. E em alguns casos, até ri.

Ao passo que quem se incomoda com a crítica que recebe e tende a discutir, brigar, argumentar, chorar, pensar obsessivamente no que ouviu e/ou reproduzir a conversa para outros amigos – buscando apoio em sua causa! – demonstra temer que a crítica tenha algum fundamento.

Aprendemos com o senso comum que existem críticas construtivas e críticas negativas. Eu, particularmente, não acredito nisso. Acredito que toda crítica é construtiva quando feita por pessoas próximas, que nos amam e querem o nosso bem.

A diferença está na maneira de falar, no jeito de dizer, na abordagem e na capacidade de sentir empatia.

Se somos cuidadosos e elegantes com nossas palavras em todos os momentos de nossas vidas, se demonstramos (sentimos) empatia com o problema do outro, saberemos criticar com carinho. Mas se formos afeitos à violência, à deselegância, à total falta de empatia, o que teremos para oferecer será violência verbal.

Muitas pessoas confundem crítica com violência verbal. A violência verbal, sim, é negativa, pois visa denegrir, agredir, machucar, ferir. A crítica, não! Se usarmos a crítica a nosso favor – e ignorá-la, muitas vezes, é uma forma de usá-la a nosso favor, uma vez que reforça, ratifica o que pensamos sobre nós mesmos e nossas escolhas – poderemos extrair dela bastante aprendizado e crescimento.

No dicionário, uma das definições de crítica é “arte de criticar ou censurar”.

E quem é que gosta de ser censurado? A censura, de cara, sugere que estamos errados, não? Daí o desconforto! Errar não faz parte do nosso plano original (ser perfeito).

Ao sentirmos raiva de um amigo, irmão, namorado (a), tia, mãe, pai, papagaio ou chefe por uma crítica recebida, muitas vezes estamos sentindo raiva de nós mesmos, raiva por não termos sido suficientemente bons para ocultar o erro que eles teimam em esfregar em nossas fuças.

O mais proveitoso seria refletir, pensar nos motivos que despertaram o nosso incômodo, mas o que fazemos? Adotamos a filosofia do “mate o mensageiro”. Afinal, é muito mais fácil dizer (pensar) que o outro é injusto, grosseiro, perverso e invejoso, se afastar dele (ou travar uma batalha), reclamar do outro para os amigos, do que mergulhar no nosso medo de estar errado – quando mergulhamos nesse medo somos obrigados a repensar nossas escolhas, repensar nossa responsabilidade e, quem sabe, até, a mudar de atitude.

É preciso, sim, passar uma peneira em tudo o que ouvimos a nosso respeito, ao nosso estilo de vida, às nossas escolhas. Mas é preciso, também, saber ouvir o que (aparentemente) não nos convém – inclusive para ter a certeza se não nos convém mesmo ou não.

Quem se magoa, se decepciona, se frustra e se enraivece em demasia com uma crítica, não percebe que está reforçando para o outro e para si mesmo que existe fundamento na crítica. Matar o mensageiro não vai resolver o problema. Observar, avaliar, refletir, aceitar, enfrentar o medo e mudar, talvez.

Os cães ladram e a caravana passa, certo? Certíssimo! Mas para a caravana passar ela precisa estar com as carroças em dia, rodas fortes, e ter um bom condutor de cavalos segurando as rédeas: você.  Portanto, para não se abalar com possíveis latidos é bom mandar a carroça emocional para a revisão e ajustar as rodas da autoestima (autoimagem) antes de colocar o pé na estrada.

E para aqueles com quem não temos intimidade e não conhecem a nossa história de vida, nossas motivações, dores e alegrias, porém mesmo assim insistem em meter o bedelho onde não foram chamados, que tal sorrir e apenas dizer: “Você não está credenciado para falar sobre esse assunto”?…







Mônica Montone é formada em Psicologia pela PUC-RJ e escritora. Autora dos livros Mulher de minutos, Sexo, champanhe e tchau e A louca do castelo.