A Copa da Rússia em 3 lições de vida

Futebol não é só esporte. É metáfora da vida fora do campo e do ser humano como um todo. Copa do Mundo não se resume a futebol. É retrato da integração entre os povos e suas culturas.
Então, o que a disputa pela taça dourada pode nos trazer como ensinamento duradouro?

1. Rumo à desmistificação.

Seleções de uma estrela só foram eliminadas: Portugal, Argentina, Brasil, Inglaterra. Chega ao fim, aos poucos, o tempo dos heróis, das individualidades redentoras. O sucesso – como o fracasso e os acidentes – é coletivo e multifatorial. Diante dele, é inútil a tentativa de identificar um só responsável. Uma pessoa não pode ser o repositório solitário de culpas e esperanças. Não funciona na família, na amizade, no trabalho, no amor, na política… Por que daria certo no futebol?

2. Nações multiculturais são consistentes e vigorosas.

O mundo tem uma nova ordem. A equipe francesa é um belo exemplar disso, com seus quase 80 por cento de nacionais de primeira geração. A torcida pelos azuis também tinha rostos de todas as cores. A conquista do título pela França, sociedade plural, país de asilo, mostra como o conceito de pátria pode ser construído a partir do acolhimento, e que imigrantes não ameaçam, mas constituem e fortalecem uma nação.

3. Lutar até o fim, cair de pé.

Os croatas não foram o único exemplo de garra e perseverança desse Campeonato, mas a perfeita representação dessas qualidades. Eles não se impressionaram com prognósticos, favoritismos, tampouco com o próprio cansaço. Campeões ou vice-campeões improváveis, os atletas romperam paradigmas e tradições . Foram longe porque não permitiram que lhes dissessem quem eram, ou onde poderiam chegar. Terminado o show de bola, deram um espetáculo de resiliência e dignidade. Ficou claro que não triunfa só quem ganha a partida decisiva: vitoriosos, também, os que jogam de verdade até o fim, os que chegam ao nonagésimo minuto acreditando no jogo, os que sabem perder.

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Arte de capa: Mahmoud Alrifaï







Formada em Direito pela Universidade de Brasília, e mestre pela Universidade de Paris I (Panthéon-Sorbonne). Advogada, é professora de Direito Internacional Público. É muito feliz na escolha profissional que fez, mas flerta desde sempre com as letras.