Caso raro em SP: Quais as chances de receber um transplante de órgão com câncer no SUS?

O transplante de fígado feito pelo SUS em um homem de 58 anos, no Hospital Albert Einstein, reacendeu uma dúvida dura e direta: qual é a real chance de um paciente receber um órgão que já tinha células cancerígenas — e como os serviços de transplante tentam evitar esse risco?

A resposta passa por protocolos de triagem cada vez mais rigorosos, por regras de notificação quando algo foge do previsto e por dados que ajudam a dimensionar esse tipo de evento: raro, mas possível.

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O que os programas de transplante fazem para barrar câncer do doador

Antes da captação, equipes checam histórico médico, exames de imagem, laboratoriais e, quando indicado, anatomopatologia do doador. Há listas internacionais que categorizam tumores por risco de transmissão (baixo, intermediário, alto) e orientam quando usar ou descartar o órgão — balanço entre risco e urgência do receptor.

Diretrizes consolidadas (OPTN/UNOS e consensos especializados) tratam inclusive do que fazer se um câncer for descoberto depois do transplante: comunicar imediatamente todos os centros envolvidos e monitorar os receptores do mesmo doador.

Qual é a chance? Os números conhecidos

Eventos confirmados de câncer transmitido pelo doador são raros. Um registro clássico encontrou taxa de 0,017% de tumores relacionados ao doador entre 108.062 transplantes com doador falecido, no início dos anos 2000.

Revisões mais novas descrevem casos, tipos de tumores mais comuns e estratégias de manejo, reforçando que a incidência é muito baixa quando há triagem adequada. Em paralelo, análises de sistemas de notificação dos EUA mostram poucos eventos confirmados por ano.

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E quando o doador tem histórico de câncer?

Nem todo antecedente oncológico impede a doação. Estudos britânicos mostraram que 1,1% dos doadores tinham histórico de câncer — inclusive alguns rotulados como “alto risco” — e não houve transmissão nos receptores analisados, com ganho líquido de anos de vida ao aceitar esses órgãos em cenários de alta urgência.

A recomendação é avaliar tipo e estágio do tumor, tempo livre de doença e prognóstico do receptor. Guias europeus e revisões recentes reforçam esse uso criterioso.

Quais tumores preocupam mais?

Relatos agregados apontam maior risco com melanoma, câncer renal oculto, linfomas e câncer de pulmão. Mesmo assim, a decisão é caso a caso: coração, fígado e pulmões, por exemplo, podem ser decisivos para receptores em estado crítico, o que muda a tolerância ao risco.

Se o câncer é descoberto depois do transplante, o que acontece?

Há protocolos de resposta rápida: reduzir imunossupressão quando possível, investigar extensão da doença, discutir retirada do enxerto (em rim, por exemplo) e iniciar tratamento oncológico.

O centro transplantador deve reportar formalmente o caso às autoridades de transplantes para rastrear os demais receptores do mesmo doador e adotar medidas de vigilância.

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Contexto brasileiro

O Brasil adota protocolos alinhados a sociedades científicas (ABTO/Ministério da Saúde) para seleção de doadores, manutenção de potenciais doadores em morte encefálica e distribuição dos órgãos, o que inclui triagem oncológica e critérios de contraindicação/aceitação.

O tema aparece em manuais e diretrizes nacionais e em consensos recentes sobre elegibilidade de receptores e boas práticas de centros de transplante.

Então, “receber um órgão com câncer” é comum? Não. A literatura trata como evento raro; quando acontece, é investigado, notificado e manejado segundo protocolos específicos.

A triagem diminui o risco, e a decisão final considera a gravidade do receptor e o benefício de sobreviver ao período crítico esperando um novo órgão — razão pela qual, em situações selecionadas e com critérios rígidos, órgãos de doadores com histórico oncológico podem ser usados com baixo risco de transmissão e ganho real de sobrevida.

E via SUS?

O caso que motivou a discussão mostra que transplantes de alta complexidade via SUS em hospitais privados credenciados seguem fluxo nacional de captação e distribuição, com o mesmo arcabouço técnico de triagem e segurança.

A rede pública brasileira é uma das maiores do mundo em volume de transplantes, com protocolos que se atualizam conforme a evidência internacional.

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