Cães de pelo azul aparecem em Chernobyl quase 40 anos após o desastre — e cientistas tentam explicar

Quase quatro décadas depois da explosão do reator em Chernobyl, o lugar que virou sinônimo de desastre nuclear voltou às manchetes por um motivo inusitado: cães com o pelo azul andando pela zona de exclusão.

As imagens, registradas por voluntários que atuam na região, parecem montagem — mas são reais e já mobilizam cientistas, veterinários e curiosos do mundo todo.

Os animais fazem parte da população de cães vadios que vive há anos nos arredores da antiga usina, descendentes diretos dos pets que foram deixados para trás quando a área foi evacuada em 1986.

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Hoje, esses cães são alimentados, vacinados e monitorados por ONGs como a Dogs of Chernobyl, ligada ao Clean Futures Fund, que mantém campanhas regulares de castração e atendimento veterinário no local.

Foi justamente durante uma dessas ações de esterilização que os cuidadores se depararam com alguns animais exibindo uma coloração azul intensa no pelo, especialmente nas patas e no dorso.

O vídeo compartilhado pela equipe rodou o mundo e levantou a pergunta óbvia: isso tem relação com radiação? Até agora, a resposta mais provável é não.

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A principal suspeita é que os cães tenham entrado em contato com algum produto químico industrial, como compostos de cobre ou cobalto, capazes de tingir o pelo de azul de forma persistente.

Casos parecidos já foram registrados em outras regiões da antiga União Soviética, sempre perto de áreas industriais.

De qualquer forma, os cientistas não estão tratando o assunto como simples curiosidade visual.

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Equipes ligadas ao programa Dogs of Chernobyl e a universidades que já estudam esses animais há alguns anos estão coletando amostras de sangue e pele para descobrir exatamente qual substância está por trás da cor e se há algum impacto para a saúde dos cães.

A ideia é descartar de vez o papel direto da radiação e confirmar se a origem é mesmo química — por exemplo, contato repetido com resíduos industriais, solo contaminado ou até vazamento de algum insumo usado na região.

Chernobyl, que em 1986 virou área proibida por causa dos níveis extremos de radiação, acabou se transformando em um “santuário acidental” para a fauna: sem a presença humana constante, a região hoje abriga lobos, javalis, ursos, bisões e centenas de cães sem dono que aprenderam a circular entre estruturas abandonadas e mata fechada.

Apesar dessa imagem quase de “parque selvagem”, a vida ali está longe de ser tranquila: os animais enfrentam frio intenso, escassez de alimento em alguns períodos, risco de ataques de outros bichos e exposição contínua a contaminantes ambientais.

Nos últimos anos, esses cães viraram objeto de pesquisas genéticas detalhadas.

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Estudos conduzidos por equipes da Universidade Columbia, da North Carolina State University e de outras instituições mostraram que os cães da zona de exclusão formam populações geneticamente distintas em comparação com cães de áreas próximas, como a cidade de Chernobyl e regiões da Rússia e da Polônia.

A surpresa é que, ao contrário do que muita gente supõe, os trabalhos mais recentes não encontraram evidência de uma taxa de mutação extremamente elevada causada pela radiação, mas sim sinais de adaptação ao ambiente tóxico, com genes ligados a reparo de DNA e resposta a danos ambientais se destacando nas análises.

Enquanto o quebra-cabeça dos cães azuis não é totalmente resolvido, esses animais seguem simbolizando a resiliência da vida em um lugar marcado pelo desastre.

Ao mesmo tempo em que viram manchete pelas cores improváveis, eles ajudam a ciência a entender melhor como espécies conseguem se manter em ambientes cheios de radiação, metais pesados e outras ameaças invisíveis — uma questão que interessa muito além dos limites de Chernobyl.

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Fonte: Newsweek

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