Bonecas de carne e osso

Mulheres com jeitinho de meninas podem ser muito atraentes; enxerga-se ali um misto de inocência e audácia que pode mexer com os mais recolhidos instintos. Fêmeas sedutoras, parecem bonecas saídas de uma caixa de cristal: a pele lembra a mais fina seda; o sorriso é um encanto; as curvas do corpo esguio bem torneado e flexível; os cabelos impecáveis, parecem ter sido esculpidos em torno do rosto perfeito.

Essas tão cobiçadas mulheres podem parecer um sonho. No entanto, no decorrer do tempo de convivência; no frigir dos ovos; no chacoalhar dos dias; na irregularidade inevitável de uma vida de verdade, podem se transformar num terrível pesadelo, para si mesmas e para quem convive com elas.

Em um mundo regido pelas aparências, não é de se admirar que a maioria das mulheres acabe por sentir que há algo ou quase tudo errado com elas. A mídia vende a ideia de que todas nós somos perfeitamente capazes de nos espremer numa rotina de 10 ou 12 horas de trabalho (muito bem remunerado, é claro!); dedicar ao menos uma hora diária à prática de atividades físicas; empenhar tempo para encarnar verdadeiras Vênus da sedução amorosa; mais um outro tanto de tempo para nos informarmos e estarmos sempre antenadas; e, caso tenhamos tido a coragem de formar uma família, que sejamos esposas e mães alegres, amorosas, bem-humoradas, organizadas… E, é claro: LINDAS!

O fato, é que aquela vida da mocinha da propaganda não existe para nós, mortais. Não mesmo! De jeito nenhum! O que existe é uma experiência possível que exige de nós um grau considerável de maturidade e equilíbrio para entender que a rotina desumana de trabalho vai nos sair mais cara do que somos capazes de imaginar. Que atividade física é essencial, mas não pode ser uma forma de tortura física e mental (Experimente, por exemplo, dançar como se o mundo fosse acabar, e sem que ninguém assista, lógico!). Que namoro bom, é namoro solto, que traga alegria, energia e intimidade para a vida e não exija de nós a prática de um joguinho chato e ridículo de sedução para “manter a chama acesa” (Ahhh, e gente casada também pode namorar, viu?! Inclusive com o próprio cônjuge). Que conhecimento é um bem de extrema importância, para fazer a gente ser mais iluminada e flexível e não mais soturna e endurecida; e que ser mãe e esposa não é tarefa de especialista, é parte do nosso processo de humanização no mundo; é habilidade que se aprende aos poucos, e, de preferência enquanto respira.

Assim, sejamos um pouco mais compreensivas com aquelas de nós que não acharam outra saída, a não ser encarnar uma espécia de “Barbie Forever”. Sejamos compreensivas a ponto de entender o processo de plastificação da pessoa, diante de uma sociedade que é implacável com quem ousa “ser fora da curva e pensar fora da caixa”. Mas, caso tenhamos a difícil tarefa de ter de conviver com um exemplar da espécie; e caso a tal pessoa seja alguém do nosso ciclo afetivo, cuidemos para não alimentar o monstrinho. Não é uma tarefa muito fácil! Essas mulheres se magoam com muita facilidade; foram privadas de experiências de maturação afetiva porque perderam tempo demais tentando agradar alguém.

Encaremos pois, como uma missão de amor. No caso da “moça” (algumas já não são mais assim tão moças há algum tempo), exagerar na dose do “anestésico facial” para reduzir as linhas de expressão, a ponto de parecer que ela virou pedra, sejamos solidárias e corajosas o suficiente para dar “um toque”. Isso na verdade, é ser amiga de fato. Amigos de fato ajudam a gente a não perder o rumo de forma irremediável, em qualquer circunstância.

E nessas alturas já deve ter gente torcendo o nariz! Porque o texto é preconceituoso; porque isso deve ser algum recalque; porque as mulheres lindas feito bonecas são mesmo vítimas de inveja e blá, blá, blá! Tudo bem! Cada um , ou uma, de nós, faz de sua vida exatamente o que bem entender! Escrevo aqui apenas a minha singela opinião acerca da maravilhosa aventura e desventura que é nascer, crescer e virar uma mulher madura e inteira.

Que a imagem idílica da “mulher boneca” não tire de nós o direito de amar as nossas belas e únicas imperfeições! Que o nosso amor pela vida seja muito mais forte do que a obstinação por um corpo perfeito e um rosto sem marcas! Que sejamos lindas, com nossa pele da cor que é; com nossas sardas e pintas; com nossas curvas a mais ou a menos; com nosso cabelo de cachos, sem cachos, ralinhos ou perdidos na contingência de uma enfermidade mais séria. Que ao olhar no espelho, sejamos capazes de nos reconhecer em nossa espetacular e única forma de ser!







"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"