Aulas online… para quem?

Em tempos de isolamento social, temos sido confrontados com inúmeras experiências inéditas. Uma delas é a tentativa das escolas de oferecer ensino à distância a seus alunos, com o objetivo principal de manter o calendário escolar funcionando. Há escolas que, a princípio, deixaram pra lá o assunto, não aderiram às aulas e atividades online; e agora estão se descabelando. Há outras que já partiram para as aulas à distância desde a primeira semana de isolamento social; nestas, os professores estão à beira de um colapso físico e mental. Há ainda aquelas que adiantaram as férias de julho para ter tempo de se adaptar; e invadiram as “férias” de seus professores com videoconferências intermináveis e milhares de atribuições para “deixar tudo pronto” para o retorno da garotada, tudo oline é claro.

Isto posto, gostaria de expor aqui algumas questões que tenho analisado e pensado em voz alta.

Sobre aulas online:

– tenho pacientes que já faziam uso deste recurso para complementar os estudos presenciais, ou porque as aulas presenciais não eram suficientes para atender suas necessidades ou ensinar de fato algum conteúdo

– conheço professores que já lançavam mão desse recurso, por meio de plataformas como YouTube para dar uma mãozinha extra aos seus alunos no horário inverso da aula;

– conheço crianças, jovens e adultos, autodidatas que já utilizavam aulas online para aprender conteúdos e desenvolver habilidades de seu interesse;

– professores excelentes nas aulas presenciais podem ter muitas dificuldades nas aulas online, porque esse tipo de aula requer outro tipo de expertise;

– professores ruins são ruins sempre, tanto faz se a aula for presencial ou online;

– alunos com dificuldades de aprendizagem sofrem tanto em aulas presenciais, quanto em aulas online, posto que a maioria das escolas não estão preparadas para atender e acolher necessidades especiais;

– Muitos dos adolescentes que têm acesso às aulas online, dormem e deixam o computador ligado só para ter presença nas aulas;

– 9 entre 10 estudantes consultam o Google para responder questões avaliativas online (Sim, as escolas estão aplicando provas durante a quarentena!!!);

– poucas escolas dedicam parte do seu tempo para tratar das questões psicológicas atuais de seus alunos que, estando confinados, sofrem com a privação da convivência com os amigos e, muitas vezes vivem presos na convivência com uma família disfuncional;

– muitos pais estão se desdobrando para acompanhar seus filhos nas aulas online: metade acredita que os professores são pouco valorizados porque são verdadeiros heróis; a outra metade descobriu que seus filhos têm professores com formação duvidosa e são despreparados (nenhuma das duas metades tem 100% de razão);

– muitas crianças estão descobrindo que seus professores tem dupla personalidade: berram e se desfazem dos alunos nas aulas presenciais e são super simpáticos nas aulas online.

39% dos brasileiros não tem acesso à internet, não tem computador nem smartphone.

Tudo isso quer dizer que sou contra as aulas online? Não! Tudo isso é um convite à reflexão sobre o papel de escolas, famílias e educadores no processo de aprendizagem. É uma troca de ideias acerca do papel democrático da educação; bem… pelo menos a educação deveria ser o principal instrumento de democratização do conhecimento. Mas será que é?

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Imagem de Nicola Giordano por Pixabay







"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"