Até que ponto somos honestos?

No início deste ano, nossos repórteres “perderam” 192 carteiras na Europa, nas Américas do Norte e do Sul e na Índia. Em cada uma delas, deixamos um cartão de visita com nome e número de celular, uma foto, recibos de compras e o equivalente, em moeda local, a 100 reais.

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“Perdemos” 12 carteiras em cada uma das 16 cidades selecionadas: em praças, perto de shopping centers, nas calçadas. Depois, observamos o que acontecia. Este não é um estudo científico rigoroso, mas um teste da honestidade na “vida real”. Cada carteira contou uma história: roubo puro e simples, dilema diante da tentação ou uma animadora honestidade convicta. Alguns resultados são surpreendentes. Conheça-os a seguir.

Lisboa

Em Lisboa, num dia ensolarado no fim de abril, um casal de 60 e poucos anos avista uma carteira perto de uma oliveira diante da maravilhosa e quinhentista Casa dos Bicos. Eles a pegam, olham o que há dentro e ligam imediatamente para o número do celular. Os repórteres de Seleções se encontram com esses cidadãos honestos – turistas da Holanda. No fim de dois dias “perdendo” carteiras em Lisboa, somente essa foi devolvida. As 11 restantes foram levadas com dinheiro e tudo.

São Paulo

Aqui na América do Sul, mais especificamente em São Paulo, o publicitário Renato Rosconi, 41 anos, avistou nossa carteira na esquina da Rua Bem-te-vi com Alameda dos Arapanés, no bairro de Moema. Ele parou, olhou em volta e, como não encontrou ninguém, abriu a carteira em busca de algum contato do dono. Assim que encontrou o número de telefone, ligou.

Quando perguntamos a Renato de onde vem sua honestidade, ele respondeu prontamente: “De berço, é claro! Honestidade vem de família.” Perguntado sobre qual seria o resultado da nossa pesquisa, mostrou-se decididamente otimista: “O brasileiro é honesto.”

Já no Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz, um garoto de uns 14 anos, de calça jeans, casaco preto, tênis e boné verde, que fazia parte de uma turma que visitava o museu naquele dia para uma “aula de imersão”, pegou nossa carteira e furtivamente a colocou no bolso da calça. Em seguida, chamou alguns colegas de turma e foram todos para o banheiro masculino. Depois de alguns minutos, saíram conversando animadamente. Nunca mais tivemos notícias dessa carteira.

Helsinque

“Os finlandeses são naturalmente honestos, isso é algo comum para nós”, diz Lasse Luomakoski, 27 anos, estudante de administração. O rapaz encontrou nossa carteira perdida na rua de pedestres de Mikonkatu, no centro de Helsinque. “Somos uma comunidade pequena, tranquila, muito unida. Temos pouca corrupção e não desobedecemos nem a sinais vermelhos no trânsito”, diz ele.

Diante do Kamppi, um grande shopping center no meio da cidade, um homem beirando os 40 anos prova que há exceções. Bem-vestido, com mochila e gorro de lã, ele olha a carteira no chão e depois a põe no bolso do casaco. Vai embora sem olhar para trás.

Em seguida, no tradicional bairro operário de Kallio, em Helsinque, falamos com um casal de 60 anos que ligou para devolver aos nossos repórteres a carteira perdida. “Para mim a honestidade é natural, porque sou um garoto de cidade pequena”, brinca Reino Lempinen. A parceira, Kaija, olha Reino com doçura e diz: “Afinal de contas, prometemos ser honestos um com o outro também.”

“A honestidade é uma convicção íntima, e a integridade vem de sentir que ‘tenho valor’. Vem de casa, mas pode ser perdida quando a vida nos trata mal”, diz Reino.

Leia o artigo na íntegra na edição de outubro da revista Seleções.

Ranking de carteiras devolvidas:

11/12 Helsinque
9/12 São Paulo
9/12 Mumbai
8/12 Budapeste
8/12 Nova York
7/12 Moscou
7/12 Amsterdã
6/12 Berlim
6/12 Liubliana
5/12 Londres
5/12 Varsóvia
4/12 Bucareste
4/12 Zurique
3/12 Praga
2/12 Madri
1/12 Lisboa







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