Até onde podemos chegar

Não estamos acostumados a estar sozinhos de forma alguma. Não lidamos bem com a solitude, estamos sempre a procura de alguém ou de algo que nos faça esquecer de nós mesmos e que preencha a nossa solidão. Afinal, não é tarefa fácil olhar pra dentro de si como se fosse um espelho e se sentir à vontade na própria pele a ponto de apreciar a sua companhia.

Parece algo simples, estar consigo mesmo, mas não é. A maioria das pessoas foge da própria solidão ou ocupam com outras coisas, programas, atividades e pessoas esse espaço. Tem muita gente que não gosta de fazer nada sozinho e sempre precisa de alguém a tiracolo pra tudo de uma ida ao dentista a uma entrevista de emprego.

Temos uma dificuldade inerente em navegar esse mundo sozinho, em aprender a lidar e administrar as situações contando apenas com nós mesmos. Somos muito dependentes do olhar externo, da opinião do outro sobre a nossa vida. Claro, que ter com quem contar, ter alguém que nos ouça e torça pela gente é algo extremamente positivo.

O problema nessa premissa é procrastinar decisões que envolvam a nossa vida e o nosso bem estar, por precisar da validação de alguém para poder seguir em frente e decidir. Independência, autonomia e confiança são ingredientes fundamentais em cada um de nós. E ser autossuficiente é sim uma característica muito positiva de se ter em uma sociedade cada vez mais dependente e carente de atenção o tempo todo.

Parece estranho, mas muitas pessoas gostam de chamar atenção se vitimizando, mostrando o quanto são frágeis e inábeis em tomar uma decisão. E seguem assim pela vida sendo tratadas como café com leite ou incapazes de administrar as situações. Gostam de se sentir assim como coitadinhas, gostam de serem cuidadas, adoram o excesso de atenção.

E o mundo vive recompensando essas pessoas com o cuidado que elas tanto querem ter em suas vidas, são sempre poupadas das coisas. Isso sinceramente é um desserviço a elas mesmas, sem se darem conta estão se limitando, se colocando em uma prisão e delimitando com uma linha imaginária até onde elas podem ir, até onde podem lidar na vida, sem ao menos tentar transpor o desafio.

Acredito que buscar o próprio crescimento enquanto indivíduo, buscar se libertar daquilo que te atrapalha e te impede de seguir em frente, é fundamental. Ser independente, ser maduro para saber lidar com as cartas que a vida te dá, é importantíssimo na vida. De forma geral, a vida é muito difícil, tem momentos que tem tanta coisa para administrar que achamos que não vamos dar conta. E tudo bem também se não dermos.

Não tem problema nenhum em estender a mão e pedir ajuda. Todo mundo precisa de ajuda em alguma coisa, por isso que enquanto seres humanos, nós nos complementamos e podemos ajudar o outro em algum aspecto e no outro precisamos daquela ajuda para avançarmos. As coisas são assim mesmo e feliz é aquele que tem amigos ou familiares a quem possa recorrer quando as coisas ficam difíceis.

Ser autossuficiente não quer dizer orgulhoso. É importante sim poder lidar com as suas coisas sozinho, mas também fundamental saber pedir ajuda quando precisamos. São coisas diferentes e não podem ser tratadas como iguais. Na vida, como em tudo, o importante é ter equilíbrio e saber dosar as coisas, ter sabedoria de diferenciar o que podemos e devemos fazer sozinhos e aquilo que precisamos de um pouquinho de ajuda para prosseguirmos.

É aprender a dosar o orgulho e o ego para aprender a ser independente e autossuficiente quando a situação se apresenta. É se conhecer, é entender quem se é e até onde podemos ir sem nos atropelarmos no processo. E com isso também aprendemos os nossos limites e nos respeitamos para não cruzarmos essa linha e não nos machucarmos no caminho.







Vivo entre a ponta da caneta e o papel, entre o clique no teclado e a história que desabrocha na tela. Sempre em busca da palavra perfeita, do texto perfeito e do livro perfeito. Acredito no poder curativo da música e de um bom livro. Cinéfila, apaixonada por séries, Los Hermanos e filmes do Woody Allen.