Às vezes precisamos de colo, não de palpite

Quase todo mundo sabe pedir colo, mas poucas pessoas sabem dar colo.

Dar colo é muito mais difícil do que parece e não implica em apenas estender a mão para quem está em sofrimento.

Dar colo, entre outras coisas, quer dizer saber ouvir. E saber ouvir é bem diferente de oferecer conselhos.

Para ouvir o que o outro está dizendo é preciso um bocado de desprendimento, especialmente se esse outro for uma pessoa próxima e íntima, porque tendemos a contaminar o que ouvimos com nossos preconceitos, ou seja, nossos conceitos pré-estabelecidos por sobre a pessoa que está discursando.

Acredito que tendemos a dar palpite sobre a conduta alheia quando nos pedem colo por dois motivos: 1) sentimento de impotência frente à dor do outro; 2) ressonância de emoções permeada pela nossa incapacidade de lidarmos com nossos próprios conflitos.

Acreditamos que temos que fazer alguma coisa para ajudar aquele que nos pede colo (pois se está nos contando um problema é porque espera uma solução), mas nem sempre isso é verdade – às vezes ouvir com atenção e carinho é o suficiente.

Quem nunca se sentiu irritado num momento de desabafo por ter sido interrompido por um namorado, pai, mãe, irmão, amigo, com perguntas como: Por que não tenta isso? Já tentou aquilo? E se fizer assim e assado?

Na realidade nos sentimos completamente impotentes, incomodados e despreparados ante a dor de quem amamos e em alguns casos nos sentimos na obrigação de arranjar uma solução, resolver o problema. Porém, esse sentimento de obrigação pode ter muito mais a ver com a nossa incapacidade de lidar com nossas impotências do que com o problema do outro.

Ninguém gosta de ver um amigo sofrendo, seja lá porque motivo for. Mas acolher a dor dos que amamos, muitas vezes, é mais eficaz que dar conselhos ou tentar resolver seus problemas.

O escritor Rubem Alves escreveu brilhantemente sobre a importância de saber ouvir em sua crônica Escutatória. Segue um trecho:

“Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular”.

E segue: “Escutar é complicado e sutil. (…) Parafraseio o Alberto Caeiro: ‘Não é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma.’ Daí a dificuldade: a gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.”

É por essas e por outras que sempre digo: dar colo é saber ouvir em silêncio e com atenção, amparar a pessoa em sua angústia para que ela não se sinta tão sozinha, ouvir sem julgar seus motivos, suas dores. É estar apenas ali.







Mônica Montone é formada em Psicologia pela PUC-RJ e escritora. Autora dos livros Mulher de minutos, Sexo, champanhe e tchau e A louca do castelo.