Apenas amar

Existem! Sexo sem amor. Amor sem sexo. Sexo com amor. Amor com sexo. Amor com amor, também. Homem que ama mulher. Homem que ama homem. Mulher que ama mulher. Homem que ama mulher que ama outro homem. Mulher que ama mulher que ama outra mulher. Experimenta escrever as variações e a noite acabará antes que você lembre de todas.

Tem gente que ama mais os animais do que as pessoas. Há quem prefira o papagaio ao filho. O cachorro ao vizinho. O porquinho aos alunos. Tem quem ama gente e animais do mesmo jeito. Há quem ame a si próprio acima de tudo. E aqueles, poucos é verdade, que amam mais o outro do que a si mesmos.

amor gratuito, amor comprado, amor vendido. Amor à vista, amor à prestação. Amor que vira amizade. Amor que vira indiferença. Amor que vira ódio. Amor que vira mais amor. Amor que dá em namoro. Amor que dá em divórcio. Amor que dá em filhos. Até amor que dá em morte.

Amar é necessidade. Você sempre encontra a quem dedicar seu amor. Que seja um gatinho – meio rato, meio torto. Que seja um ídolo – perfeito e distante, perfeito porque distante. Pode ser sua sogra, seus sapatos, seu trabalho, seu nariz. Ou mesmo aquela pessoa que você demorou treze anos para enxergá-la em infinito.

Todas as coisas do universo são passíveis de amor. O sujeito que ama ideais e topa se sacrificar por eles. A artista que ama tanto sua arte que aceita morar muito mal por ela. O cão que ama seu dono violento. A dona que ama seu cão velho, cego, surdo. O soldado que ama a guerra. A feirante que ama seus tomates e jilós.

Por tudo isso, tem gente que diz que o amor é uma espécie de milagre. Ele surge de repente, cai do céu, salta de debaixo da terra, aparece do nada. Amor não tem origem previsível, nem destino certo. A matemática, a metafísica, a ciência toda são incapazes de explicá-lo. Nem mesmo a poesia é maior do que amor.

Ninguém toma conta dele. Ninguém pode controlá-lo. Amar é que o há de mais natural no mundo. Pessoas amam. Cachorros amam. Focas, esquilos, macacos amam. Quem sabe até o mosquito da dengue também ame. Alguém vive sem amor?







Fernanda Pompeu é escritora especializada na produção de textos para a internet. Seu gênero preferencial é a crônica. Ela também ministra aulas, palestras e workshops de escrita criativa e aplicada. Está muito entusiasmada em participar do CONTI outra, artes e afins.