Amadurecer, por Patrícia Pinheiro

Por Patrícia Pinheiro

Muitas pessoas enxergam na capacidade de cozinhar, lavar, passar e administrar uma casa sozinho, como um sinal de amadurecimento. “Olha só, fulano está tendo que se virar por conta própria, está amadurecendo”.
 
Não se pode negar que a independência é um importante passo quando se fala em maturidade; mas a última é, a meu ver, algo ainda muito maior; algo quase subjetivo.
 
Você sabe que está amadurecendo quando opta por dormir no sofá da sala para não incomodar sua mãe de madrugada com a luz do computador ligado e barulhos de porta batendo. Quando a preocupação com a saúde dela lhe torna chato e questionador.
 
Amadurecer é tornar-se um pouquinho mãe de sua mãe e pai de seu pai.
Você sabe que está amadurecendo quando não deixa uma nota ruim ou uma pessoa amarga acabar com a sua paz de espírito.
Amadurecer é também ter experimentado sofrimento suficientemente verdadeiro para nos fazer capazes de aumentar diariamente o nosso limiar. É concluir que o otimismo pode até nem sempre ajudar, mas nunca há de atrapalhar.
Esqueça o banheiro limpo e o dia a dia impecavelmente organizado. De nada adianta ter uma casa brilhante e o sucesso profissional, se você não dá bom dia para o porteiro e economiza palavras com seu companheiro/a.
Amadurece aquele espera sua vez de falar, que genuinamente se coloca no lugar do outro, que não tem medo de aprender, mudar de opinião, errar e voltar atrás.
Amadurece, enfim, aquele que passa a viver de olhos e ouvidos bem abertos; que se permite sofrer e sensibilizar pelas experiências, esvaziar-se para ser capaz de ficar cheio novamente, e que, quando transborda, jamais deixa de tentar encher outros copos.






Patrícia Pinheiro tem 25 anos, é natural de Santa Maria - RS, morando em Florianópolis -SC. É formada em Psicologia e amante das palavras. Poeta e escritora, compartilha seu trabalho em suas redes sociais e é colunista do site Conti outra.