Algumas divagações para suavizar os hiatos de uma existência

Por Lourival Antonio Cristofoletti

Falar de coisas que lhe abordem, de maneira desavisada, na hora que nada pede. Comentar sobre sensações que acometem você, vindas não se sabe de onde. Parecem exercícios gerados de maneira espontânea no encanto da contemplação, em uma de suas faces mais descompromissadas. Oferecem, quem sabe, oportunidades de vagos repensares.

Quem sabe de onde vêm as energias que costumam levitar por aí? Sabe-se que são dispersas e que não refutam quem se dispuser e ousar mobilizá-las. Convém não hesitar por demasiado tempo, nem consumir muito esforço refletindo sobre cada omissão.

Quem não atrelou mente ao coração e ainda não desencadeou nenhuma ação ou processo em si, mostra-se conveniente poupar-se: pode ser hora de ficar quieto. Já que quer fazer algo prepare-se para uma futura investida na hora que a surpresa resolver invadir os espaços de sua vida.

Como é que se faz para se permitir furtivas saídas do dominío da razão? Ter receitas é presunçoso: fala-se à boca pequena que viagens pelas raias da imaginação oferecem motes revigorados naturalmente quando, claro, sutilmente alimentados. Se tiver traquejo, que os desenvolva com a naturalidade do sopro do vento no colo da manhã.

Sempre cabem recomendações genéricas, de preferência não testadas: cole os ouvidos onde bem entender e atente para não se exasperar se resolver não trilhar aquele caminho delineado: não, você não é a única opção do multiverso (quem lhe falou que somente há um universo?).

Se assim sendo, há no não existir um propósito destinado para si. E, diante de sua negativa em agir, alguém irá naturalmente fazê-lo em seu lugar (é a Lei da Ausência do Vácuo na Natureza). Lógico, relaxe: outras oportunidades surgirão, porque garantem que o estoque de possibilidades ousa beirar os supercílios do infinito.

Aceitam-se exercícios de sensibilidade aleatoriamente distribuídos, sem compromisso com resultados tangíveis: deixar-se levar como quem nada sabe em um lugar estranho, sem ao menos dar-se ao trabalho de ter pesares ou fazer discretas anotações.

Permitir-se, amiúde, ser abduzido pela sensualidade da marota vida, manifesta a cada xingamento evitado, a cada indiscreto pulsar, sem preparadas respostas, livre de repertórios gastos ou decoradas satisfações.

Quando não se souber a razão de certas coisas lhe acontecerem – “Por que eu?”;”Agora?”; “Deste jeito?” – recomenda-se evitar as raias da ansiedade: pensa-se em oferecer discretos créditos aos desígnios superiores. É sabido que eles gostam de fugir à razão, mas educadamente pedem a compreensão possível para quem resolver lhes dar um colo temporário.

Como é que faz para se fugir da tentação de entender outras pessoas enquadrando-as? Bem que eu não sei: por via das incertezas, sempre é bom reforçar que a lógica gosta de um ato de rebeldia e constitui um processo individual, com suficiente maleabilidade para exibir tolerância a um variado espectro de possibilidades.

Tudo que ao foge ao laico entendimento reverbera em algum lugar: se o vento ajudar, possibilita, por extensão, fugir da retórica e construir inusitadas matizes na intersecção do pensamento, da palavra e da ação.

A satisfação e o prazer de uma felicidade momentânea trabalham com aquilo que brota entre os escombros da dúvida. O que advém desse movimento contribui para modelar almas: muitos aí enxergam como uma oportunidade que se rebela a qualquer determinação como quem exercita a liberdade.

Bem que se gostaria de se deixar-se arrebatar, identificando e nominando pulsares, como aves exóticas do pensamento: aquele momento de fuga em que a tentação de querer entender muita coisa constitui mote para se enlevar.

Sempre é tempo para um movimento incessante do nada, essa vigilante atenta e alimentadora contumaz das possibilidades de crescimento e êxtase de cada ser que transita na rota do impossível que um dia sonha ser viável.

LOURIVAL  ANTONIO CRISTOFOLETTI

contioutra.com - Algumas divagações para suavizar os hiatos de uma existênciaPaulista de Rio Claro e residente em Vitória/ES. É mestre em Administração pela UnB – Universidade de Brasília, Analista Organizacional e Consultor em Recursos Humanos. Atualmente atua como professor na Graduação e MBA na FAESA – Faculdades Integradas Espírito-Santenses; Instrutor na UFES – Universidade Federal do ES e na ESESP– Escola de Governo do ES.

Livro publicado: COMPORTAMENTO: INQUIETAÇÕES & PONDERAÇÕES
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