A vida é muito curta pra alongar debate inútil.

Larguemos mão, minha gente. Pra que essa briga toda? Tanta contenda, peleja, quiproquó. Por que todo esse bate-boca? De que vale tanto argumento jogado fora? Pra que servem mesmo nossos raciocínios e reflexões a esta hora? Tem um tempo em que bom é deixar pra lá. Se não faz bem, mal também não vai fazer. Deixemos estar. Se não tem jeito, rejeite.

Pense bem. Vencer a discussão, destroçar o adversário, arrancar-lhe as vísceras e jogar para o cachorro vai mesmo dar jeito no mundo? Você e eu aqui, entrincheirados, guerreando por razão, defendendo cada qual seu soberano ponto de vista, e os canalhas lá fora decidindo por nós. Vivendo nossa vida enquanto nos odiamos de morte. Não está certo, não.

O que há de se fazer será feito na prática. Por nós ou por alguém. No duro, para além do bate-boca estéril e enfezado que nos leva a nada e nos rouba o tempo. Esse tempo que é tão raro, tão pouco. Tempo em que podíamos pensar novas saídas, outras possibilidades. Juntos, somados, unidos, multiplicando vontades, dividindo tarefas. Fazendo acontecer. Não assim, um contra o outro, inflamados, enfraquecidos. Cegos dessa sanha inútil de mudar a opinião alheia.

A gente devia passar mais tempo sozinhos, sabe? Assim, uma hora e outra, trancar nossas coisas aqui dentro e pensar no sentido de tanta falação jogada fora. De tanto ganhar razão a qualquer custo, o fato é que a gente acaba perdendo o afeto. De tanto alongar pendenga inútil, a gente faz a vida mais curta do que ela já é. Tudo por uma verdade ilusória e boboca. Depois a gente se encontra, resolve o que se pode resolver e esquece o resto. Por ora, chega de peleja inútil.

Se é para investir no que nada vale, que seja a conversa amiga sem utilidade definida, os inofensivos papos furados, a prosa à toa, as horas inocentes de fazer nada, os diálogos sem pretensão, em que ninguém precisa convencer ninguém de nada e cada lado passa a bola ao outro com cuidado, jogando pela vitória comum, a beleza do movimento, a saúde do corpo e da alma.

Como no frescobol jogado em dia de praia e sol, céu aberto, gente passando pra lá e pra cá, gente de todos os tipos e cores, credos e origens caminhando sem medo, os pés na água e os olhos à frente, um jogador rebate a bola e a devolve delicada à raquete do colega. O outro acompanha e a retorna com capricho, empenhado no acerto. E os dois se deixam estar ali, artesãos inocentes e aplicados, passando a bola de um lado a outro, como quem costura com linha invisível uma rede de segurança que haverá de salvar o mundo em sua queda. Dois soldados gentis, cavalheiros seguros, avançando sua conversa pela noite e pela vida em total camaradagem dialogal.

Quem sabe sejamos assim? Quem sabe possamos tentar? Eu digo “vem, pessoa amiga, entra que o feijão tá no fogo”. Você traz um vinho barato e nós bebemos com arroz, feijão e ovo, falando da vida sem medo, sem culpa. Sem pretender razão nenhuma. Alongando essa vida tão curta com esperança e jeito. Quem sabe um dia. Quem sabe.

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Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.