A sorte é que não somos feitos do que os outros pensam

Vivemos rodeados de pessoas de todo tipo, com histórias pessoais e visões de mundo próprias. Cada um de nós concebe a vida lá fora e o mundo aqui dentro de uma maneira muito peculiar, de acordo com os instrumentos que temos, digerindo o que chega e o que sai, assimilando ou não, aprendendo ou não, devolvendo ao mundo aquilo que carregamos em nossos corações. Infelizmente, nem todo coração é igual ao nosso.

E é assim que vamos nos encontrando e nos desencontrando, tentando achar a melhor forma de conviver e de viver entre tanta gente. A maioria de nós quer harmonia e foge a atritos sem serventia, porém, tem muita gente que parece mergulhar em águas turbulentas o tempo todo, como se precisasse de embates e de discussões incômodas para viver. E, quase sempre, essas pessoas se intrometem onde não foram chamadas, para que possam provocar as tempestades de que se alimentam.

Muitas pessoas se agarram ao que acham ser a verdade, ser o correto, o adequado, e jamais se permitem rever os próprios conceitos. Com isso, são incapazes de conseguir enxergar outros caminhos que não aqueles que traçaram para si, ainda que suas jornadas sejam dolorosas, obsoletas, paralisantes. Não flexibilizam, não oxigenam as ideias, que ficam mofando e atrapalhando os avanços necessários. Quem não reza a cartilha dessas pessoas é alvo de seu julgamento, na maioria das vezes cruel.

Os julgamentos da sociedade sempre ocorreram, mas hoje estão ainda mais acirradas, haja vista a superexposição disseminada pelas redes sociais. Quase todo mundo se encontra em uma vitrine, pronta para ser apedrejada impiedosamente no primeiro escorregão, mesmo que não haja evidências claras, ainda que se trate de formas de viver que não machucam ninguém. Posicionar-se publicamente, nesse contexto, tornou-se perigoso, pois o contraditório não é digerido por grande parte das pessoas.

Por isso, é necessário guardar dentro de si tudo o que alimenta seus sonhos, tudo o que compassa as batidas de seu coração, tendo a certeza de que seu caminho é limpo e verdadeiro, de que você é alguém que vale a pena. Quem se ama sabe muito bem o que é seu e o que não é, não se abalando com as reprimendas que jogam lá de fora, pois é alguém que se conhece e sabe exatamente o que tem a oferecer e por merecer. É alguém que não se contamina pela doença do outro, alguém que se conforta ao perceber que nunca será feito do que os outros pensam. E segue.

Foto de Victoria Borodinova no Pexels







"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.