Antes de aparecer em um vídeo institucional do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), Mariana Goldfarb já vinha dando pistas públicas de algo que não cabia nas manchetes sobre “casal perfeito”.
Em entrevistas e podcasts, a modelo comentava crises de saúde, isolamento, ansiedade e uma sensação constante de exaustão emocional.
Agora, ao emprestar o rosto a uma campanha oficial contra a violência psicológica, ela conecta essas vivências pessoais a um problema que atravessa a vida de muitas mulheres – inclusive aquelas que, por fora, parecem “bem resolvidas” e bem-sucedidas.
No vídeo gravado para o MP-RJ, que integra a campanha nacional “21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência e do Racismo contra as Mulheres”, promovida pelo Ministério das Mulheres em parceria com órgãos estaduais, Mariana relata que só percebeu a gravidade da situação quando se sentiu “com 5% de oxigênio”.

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Ou usava essa última reserva de força para sair dali, ou sentia que algo dentro dela iria morrer. Ela conta que entendeu, com o tempo, que vivia um relacionamento abusivo desde muito cedo – mas sem conseguir dar nome a isso.
A modelo descreve como a violência emocional foi se instalando em detalhes que, na época, pareciam “coisas da convivência”: tratamento de silêncio como punição, clima de tensão constante, comentários que minavam amizades e afastavam a família, culpa jogada sobre ela a cada conflito.
Segundo Mariana, esse tipo de dinâmica não tem nada de amoroso: gira em torno de poder, dominação e controle.
A modelo conta que vivia em estado de alerta, “pisando em ovos”, fazendo de tudo para que o dia terminasse em paz — e, mesmo assim, a sensação era de fracasso diário.
O corpo dela reagiu antes que a ficha caísse por completo. De acordo com o relato, vieram queda de cabelo, tremores nos olhos, falta de apetite, anorexia, insônia e um cansaço que não passava.
Para anestesiar a dor, Mariana diz ter recorrido à bebida, aumentando o consumo de álcool na tentativa de afastar a realidade.
Amigos e familiares apontavam que “aquilo estava errado”, porque já não reconheciam a mesma pessoa: o brilho tinha sumido, como se alguém estivesse sugando a energia dela o tempo todo.
Esse vídeo para o MP-RJ não surge do nada; ele se soma a outras falas recentes de Mariana sobre o tema.

Em 2024, em entrevista ao podcast “Bom Dia, Obvious”, ela já havia descrito um relacionamento em que se sentia isolada, submetida a “tortura psicológica” marcada por silêncio prolongado, confusão mental e sintomas físicos como queda de cabelo e noites em claro.
Na época, ela afirmou que entrou nesse tipo de relação justamente por buscar validação externa, o que a deixava mais vulnerável à manipulação. A saída veio com terapia, estudo sobre violência de gênero e apoio da irmã, que a ajudou a deixar a casa e recomeçar em um ambiente menor, porém em paz.
O que Mariana descreve se encaixa no que a Lei Maria da Penha classifica como violência psicológica: condutas que causam dano emocional, diminuem a autoestima, perturbam o desenvolvimento da mulher e visam controlar suas ações, crenças e decisões — muitas vezes por meio de humilhação, manipulação, isolamento, vigilância, chantagem e desqualificação constante.
Não é preciso xingamento explícito ou agressão física para que exista violência; às vezes, o que corrói são o silêncio calculado, o desprezo, a inversão de culpa e a tentativa de cortar laços com amigos e família, exatamente como ela relata.
Ao comentar as perguntas frequentes que escuta — “por que você não saiu antes?” —, Mariana reforça outro ponto sensível: romper com esse ciclo não depende só de força de vontade.
O abuso emocional costuma criar uma mistura de medo, dependência afetiva, confusão e esperança de que “dessa vez vai mudar”, o que prende muitas mulheres por anos. É justamente por isso que campanhas públicas insistem em nomear essa forma de violência, explicar seus sinais e lembrar que a responsabilidade nunca é da vítima.
A participação de Mariana integra a campanha “21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência e do Racismo contra as Mulheres”, que acontece em todo o país entre 20 de novembro e 10 de dezembro, com ações de órgãos do Judiciário, Ministério Público, movimentos sociais e secretarias de mulheres.
A mobilização busca dar visibilidade às diferentes formas de agressão — física, sexual, moral, patrimonial e psicológica — e incentivar a busca por ajuda, inclusive por meio do Disque 180 e de redes locais de acolhimento.
O vídeo de Mariana está sendo difundido nos canais oficiais do MP-RJ e nas redes sociais, somando a identidade de uma figura conhecida a uma pauta que, na prática, diz respeito à vida de muitas mulheres que ainda não conseguiram usar os seus “5% de oxigênio” para pedir socorro.
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