7 sinais silenciosos de que você sofreu um trauma infantil (e como a ciência explica isso)

A ideia de que “criança esquece fácil” não se sustenta mais diante da ciência. Um dos estudos mais influentes sobre o tema é o ACE Study (Adverse Childhood Experiences), conduzido por Vincent Felitti e Robert Anda, que mostrou como experiências adversas na infância — abuso, negligência, violência doméstica, humilhações constantes, abandono emocional — deixam marcas profundas no cérebro, no corpo e na forma como nos relacionamos na vida adulta.

Essas marcas nem sempre aparecem como lembranças claras. Muitas vezes, surgem como ansiedade, dificuldade de confiar, crises nos relacionamentos ou uma sensação vaga de que “tem algo errado” com você. Uma ideia muito presente no trabalho da psicóloga Josie Conti é que quando você entende o trauma, entende também que muitas das suas reações foram, por anos, tentativas de proteção.

A seguir, veja 7 sinais silenciosos que podem indicar que você viveu um trauma importante na infância.


1. Você vive em estado de alerta constante
Mesmo em situações aparentemente seguras, você se sente tenso, esperando que algo ruim aconteça. Isso é chamado de hipervigilância. É como se o corpo tivesse aprendido lá atrás que o mundo não é confiável — e nunca mais tivesse relaxado completamente.

2. Confiar em alguém parece sempre arriscado
Você até se relaciona, mas sempre com um pé atrás. A sensação é de que, a qualquer momento, a pessoa pode te trair, abandonar ou magoar. Em muitos casos, isso nasce de uma infância em que as figuras de cuidado eram imprevisíveis, agressivas, ausentes ou emocionalmente frias.

3. Você se culpa por quase tudo
Quando algo dá errado, a primeira reação é pensar: “a culpa é minha”. Adultos traumatizados com frequência carregam uma crença de fundo de que são insuficientes, problemáticos ou “defeituosos”. Isso costuma vir de anos ouvindo críticas, xingamentos, comparações ou sendo responsabilizado por problemas da família.

4. Dificuldade de saber o que sente (ou medo de sentir demais)
Em vez de perceber claramente tristeza, raiva, medo ou alegria, você sente um “nó” difícil de traduzir. Às vezes, parece mais fácil bloquear tudo do que entrar em contato com as emoções. Muitas crianças traumatizadas aprendem a “desligar” para suportar o que vivem — e chegam à vida adulta com esse modo automático ativado.

5. Medo exagerado de rejeição e abandono
Uma mensagem não respondida, um encontro cancelado, um silêncio um pouco maior… e o pânico aparece. Você sente que vai ser deixado de lado a qualquer momento. Esse medo costuma vir de vínculos iniciais rompidos, figuras de apego instáveis ou ameaças constantes de abandono.

6. Repetição de relacionamentos e situações destrutivas
Você sai de um relacionamento ruim e entra em outro muito parecido. Muda de ambiente, mas encontra o mesmo tipo de chefe abusivo, amigos que te usam, parceiros que te desrespeitam. A psicologia chama isso de compulsão à repetição: o cérebro tenta, sem perceber, recriar o cenário conhecido para tentar “consertar” algo que nunca foi curado.

7. Reações emocionais intensas a “pequenas coisas”
Uma crítica leve, um tom de voz mais alto, um esquecimento bobo… e, de repente, você está chorando, tendo crise de ansiedade ou explodindo de raiva. De fora, pode parecer exagero. Por dentro, é como se aquela situação tivesse apertado um botão que ativa memórias emocionais profundas, ligadas ao trauma.


Esses sinais não significam que você é fraco ou dramático. Significam que algo aconteceu com você em um período em que deveria haver proteção e cuidado — e não houve. E isso importa.

Um exemplo muito conhecido é o da atriz Viola Davis, vencedora do Oscar. Em sua autobiografia, ela relata ter crescido em meio à pobreza, violência e situações de extrema vulnerabilidade. Por anos, essas experiências impactaram sua autoestima, seus relacionamentos e sua saúde emocional. Falar sobre isso publicamente não apagou o passado — mas ajudou a ressignificá-lo e abriu espaço para que outras pessoas reconhecessem suas próprias dores.


E o que fazer com isso? O papel de terapias como o EMDR

Se você se identificou com vários desses sinais, não é um diagnóstico, mas pode ser um alerta para buscar ajuda profissional. Hoje, além da psicoterapia tradicional, existem abordagens específicas para trauma, como o EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing).

O EMDR é uma forma de tratamento que trabalha diretamente com as memórias traumáticas, usando estimulação bilateral (como movimentos oculares guiados, toques alternados ou sons) para ajudar o cérebro a “reprocessar” experiências dolorosas que ficaram “presas” no sistema nervoso. Em vez de apagar o passado, o EMDR diminui a carga emocional dessas lembranças, para que elas deixem de dominar suas reações no presente.

Aliado a um acompanhamento psicoterapêutico acolhedor e ético, esse tipo de técnica pode ajudar a reconstruir a sensação de segurança interna, fortalecer a autoestima e abrir espaço para relações mais saudáveis.

Reconhecer que houve trauma não é se vitimizar. É, como diria a ideia central muitas vezes reforçada por profissionais como Josie Conti: “Nada muda o que aconteceu, mas tudo pode mudar na forma como isso vive dentro de você.”

Agende um horário com a psicóloga Josie Conti.







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