Os homens que não sairão nunca da adolescência

O bolo já está lá no forno há trinta minutos. De acordo com a receita, em dez minutos você deverá tirá-lo de lá; ele deverá estar pronto em dez minutos. No entanto, você está diante do visor do bendito forno e constata: o maldito bolo não cresceu nem um milímetro. De imediato instala-se uma dura conclusão em sua linda cabecinha: O BOLO ENCRUOU, SOLOU, EMBATUMOU! Tragédia anunciada. Bolo solado não presta; ninguém vai comer; e, pior, todo seu trabalho, todos os ingredientes vão parar no lixo! Ahhh… Mas poderia ser pior! Bolo solado é um acidente de percurso da categoria “leve”. Mas, o que dizer sobre a bizarra experiência de topar na vida com um “homem solado”?

Pode parecer estranho comparar bolos com homens. Mas não é! O mundo está repleto de “homens solados”. São meninos que, apesar de terem sido feitos a base dos melhores ingredientes, contarem com mãos hábeis no seu projeto e desenvolvimento, viverem num ambiente acolhedor e propício… NUNCA vão crescer!

A parte mais complicada dessa história é que essa espécie de homem não recebe nenhuma etiqueta de advertência como alguns produtos que vêm com o aviso em destaque “contém glúten” ou “esse medicamento dever ser evitado em caso de suspeita de dengue”. O que é uma pena. A ausência de um lembrete desses pode trazer consequências graves às incautas pessoas que se disponham a acolher em suas vidas esses complicados seres.

Ao contrário do bolo, o “homem solado” não tem nada de inofensivo. Uma vez tendo sido você capturada ou capturado pelo seu charme (sim! eles são muito charmosos!), custa um bocado para libertar-se deles. Esse espécime, que nem é raro, costuma atrair para sua teia pessoas amáveis, carinhosas, tolerantes e fortes. Sim, é uma combinação rara; mas não incomum. Pessoas fortes costumam acreditar que oferecer amor é uma coisa natural. Essas pessoas funcionam como as lâmpadas para as mariposas: são irresistivelmente atraentes. Os “homens solados” detectam essas pessoas de longe; e fazem qualquer coisa para conquistá-las. Mas é só a conquista que os interessa.

O que iguala bolos e homens solados é que ambos são indigestos. Em pouco tempo de convivência você será surpreendido por demonstrações explícitas de manipulação emocional. Esses eternos meninos almejam exibir para o mundo uma estampa perfeita de sucesso e grandes conquistas, mas não são capazes de fazer muita coisa para alcançar o que desejam. A grande maioria, embora já conte com mais de três décadas de vida, continua morando com os pais; tem visíveis dificuldades para criar vínculos emocionais; cultua paixões avassaladoras por brinquedos caros (que pode ser um prosaico aparelho celular ou um automóvel de luxo), e são verdadeiros buracos negros afetivos, capazes de sugar toda a sua cota de tolerância, paciência e boa vontade para suprir suas infinitas necessidades.

A verdade é que é melhor desistir de esperar que essa criatura amadureça. Essa categoria de pessoa, em geral, cresceu sendo adulado pelos pais ou responsáveis pela sua educação; contou com afagos na cabeça todas as vezes em que precisava ser devidamente enquadrado e chamado à responsabilidade; desenvolveu uma idílica paixão por si mesmo que vai durar para todo o sempre; acredita que não importa o tamanho da besteira que ele faça, tudo acabará dando certo porque sempre haverá alguém para limpar a sua sujeira; vai demorar tanto para virar adulto que corre o risco de passar da infância para a senilidade, como se fossem essas as duas únicas fases do desenvolvimento.

Nenhum de nós nasce vacinado contra encrenca e nem existe seguro que nos proteja de nos enganar,  isso é absolutamente real. No entanto, antes de embarcar numa história sem coerência e sem coesão, antes de virar protagonista ou coadjuvante num romance que não tem nada de cômico, procure fazer uma revisão em seus receptores e antenas para captar esse tipo de “mala sem alça e sem rodinha”. No fundo, a gente sempre sabe quando está diante de um garoto que se esqueceu de crescer, apesar das modificações orgânicas e dos sinais de envelhecimento externo. No fundo, a gente é capaz de perceber quanto limitadas são as nossas chances de ficar bem ao lado de alguém que nasceu e cresceu acreditando que seu lugar é sempre no pódio e que para ele só existem os aplausos.

Então, o negócio é o seguinte: esbarrar com esse “pavão-anão-sem-noção”, pode até ser inevitável. Até porque, trata-se de uma espécie que prolifera em progressão geométrica. No entanto, deixar a criatura estabelecer-se em algum canto da sua vida… Aí já é outra história, certo? Depois de ter dado espaço, fingido não ter visto o absurdo da situação, aceitado todas as manias infantis e se disposto a atender todas as necessidades que nunca serão satisfeitas, será mais difícil estabelecer um limite e marcar um ponto final. Homens infantilizados não são capazes de enxergar nada que não seja ou venha em seu próprio benefício, nunca conseguirão admitir um erro (nenhum erro), jamais entenderão que para ser promovido à categoria de gente, terão de abrir mão de suas confortáveis e adoráveis posturas egocêntricas. Portanto, dê ao “homem solado” o mesmo destino do bolo que não cresceu: DESCARTE! E arranje outra receita, meu bem! Essa já era!







"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"