O ciúme, uma intrigante explanação de Rubem Alves
“Ela tinha a beleza tranquila da maturidade.
 Alguns fios de cabelo branco davam ao seu rosto um encanto especial.
 De hábitos domésticos e simples, um de seus prazeres era assentar-se numa poltrona e entrar na bolha que a leitura cria.
Quem lê está num outro mundo, muito distante.
O marido a observava de longe. Olhos que observam são aqueles que olham quando o outro não está olhando. Seu olhar era o de apaixonado que desconfia, olhar de ciúme. Os olhos do ciumento vigiam.
Vigiam gestos, movimentos, horas, sorrisos.
Vigiam porque as modulações silenciosas e distraídas da pessoa amada podem conter revelações sobre aquilo que ela esta pensando.
O ciumento suspeita que o ser amado lhe esconda alguma coisa.
Olha na esperança de ver algo escondido, de entrar dentro do segredo do outro. O ciumento detesta os pensamentos.
Por mais que os vigie, eles estão além de sua vigilância.
Ele queria adivinhar seus pensamentos.
E a sua vigilância se exacerbava quando ela sorria ou ria.
Como explicar este sorriso se ele, o marido, não estava dentro do livro?
Ela não precisava dele pra ser feliz.
Porque ali, mergulhada no livro, o marido não existia…”
“O ciúme nasce quando se toma consciência de que a pessoa amada é livre. Ela é um pássaro pousado no ombro.
Nada o prende. Pode voar quando quiser.”






Foi um psicanalista, educador, teólogo e escritor brasileiro, é autor de livros religiosos, educacionais , existenciais e infantis. É considerado um dos maiores pedagogos brasileiros de todos os tempos, um dos fundadores da Teologia da Libertação e intelectual polivalente nos debates sociais no Brasil. Foi professor da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Conheça o Instituto e a página oficial do autor no Facebook pelos links indicados.