Eu sei quem sou, os outros me imaginam

“Só nós é que sabemos o quanto temos que lutar para sair das escuridões em que muitas vezes adentramos, seja por conta do que nos acontece, do que nos fazem ou do que nós mesmos provocamos.”

Não existe quem não consiga levantar suposições a respeito do outro, mesmo sem conhecê-lo a fundo. Costumamos caracterizar as pessoas à nossa volta, atribuindo-lhes juízos de valor baseados muitas vezes no pouco que sabemos a seu respeito. Dessa forma é que surgem os rótulos pré-concebidos, enquanto julgamos as atitudes alheias superficialmente, não raro analisando erroneamente os comportamentos das pessoas, sem saber de fato por onde elas passaram até chegar ali.

Cada um de nós trava as próprias batalhas diariamente, pois é no silêncio de dentro de nós que enfrentamos os maiores desafios de nossas vidas. Ninguém é capaz de imaginar o que e como realmente nos sentimos, o quanto nos doem o que acumulamos aqui dentro, tudo o que está impresso em nossa alma, nossas feridas, nossas cicatrizes, nossas marcas internas. Reagimos de uma maneira muito particular ao que a vida nos dá ou tira, às vezes de uma forma que nem nós mesmos esperaríamos. Somos únicos.

Sempre será importante podermos contar com a ajuda daqueles que realmente se importam conosco e que são capazes de nos manter lúcidos enquanto as tempestades nos assolam, porém, o essencial, aquilo de mais genuíno e nosso e que nos forçará a seguir em frente é algo íntimo e pessoal. Só nós é que sabemos o quanto temos que lutar para sair das escuridões em que muitas vezes adentramos, seja por conta do que nos acontece, do que nos fazem ou do que nós mesmos provocamos – as consequências sempre vêm.

Na verdade, não sabemos é nada a respeito de quem os outros realmente são. Podemos até saber muito de quem faz parte de nossas vidas, com proximidade, mas, mesmo assim, não raro somos surpreendidos por atitudes que jamais esperaríamos de quem pensamos conhecer a fundo. Cada pessoa sente o mundo à sua maneira, digerindo ou não o que lhe acontece de uma forma peculiar, de acordo com o que possui, de acordo com o que consegue fazer com tudo o que chega.

Por essa razão, sempre que julgarmos alguém com base no que apenas vemos ali à nossa frente, estaremos muito provavelmente sendo injustos. Da mesma forma, devemos manter nossa tranquilidade, mesmo quando nos julgam precipitadamente, quando chegam aos nossos ouvidos maledicências que disseram sobre nós, porque ninguém sabe o que estamos passando, nem o que se passa pela nossa jornada. Quem sabe de mim sou eu, os outros simplesmente me julgam sem levar em conta o mais importante: o que eu tenho de verdade dentro de mim.

Imagem de capa: Leszek Glasner/shutterstock







"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.