Despedida de um amor

Vou-me embora da sua vida. Vou hoje, sem demora. Uma decisão calculada, conclusiva, bem pensada. Vou-me embora da sua vida, aliviar o peso que você carrega, liberara sombra que te roubo, devolver o espaço que ocupo.

Vou-me embora para me preservar, para te poupar, para nos afastar, para poder pensar, sentir saudades ou alívio, solidão ou euforia, liberdade ou arrependimento. Vou para ouvir o meu silêncio, entender meus desejos, separá-los da confortável rotina, deixar que sintam frio e medo, que digam o que realmente querem de mim e para mim.

Se você não puder esperar, prossiga. Eu vou porque por perto não entendo o que preciso. Vou para saber de que lado sofro e de que lado me aconchego.

Vou-me embora da sua vida para viver um pouco só. Vou testar as inseguranças e desproteções que tanto se teme. Ou descobrir minha fortaleza e independência, que viviam trancafiadas nas crenças da fragilidade.

Posso me arrepender, e se isso acontecer, não terei medo de lhe dizer. O maior medo que passo é hoje, a decisão de romper com o que já conheço e acabei por me acostumar.

Mas não quero somente me acostumar. Nem que se acostume comigo. Quero outra dimensão de vida, de surpresas, emoções e descobertas. Quero isso para mim e também para você.

Não sei se é pedir demais. Na verdade, o único pedido que tenho é que você não me queira por perto enquanto eu precisar ficar longe.

Vou-me embora da sua vida porque a confundi com a minha própria e isso não é jeito de se viver. Não te culpo, não me culpo. Só estou indo porque não saberia como ficar sem me entender.







Administradora, dona de casa e da própria vida, gateira, escreve com muito prazer e pretende somente se (des)cobrir com palavras. As ditas, as escritas, as cantadas e até as caladas.