Ave migratória

Vim me esticar, relaxar e fugir da indecisão entre ter de ser e ter de fazer.
Vim circular, respirar, soltar as asas, escutar o silêncio e
viver intensamente cada segundo.
Vim contemplar a noite a qual seduz a luz do dia, a relva ser acariciada pelo vento e os pássaros saírem em revoada.
Entro em pausa…
Respiro o lento correr do tempo, escancaro minhas por- tas e janelas para tragar o cheiro do jasmim, ouço o trepidar do fogo na lareira e o assovio do vento; tudo embala meu coração!
Vida sentida, refletida e renovada vai brotando, lenta-
mente, tal como uma flor que se abre ao nascer do Sol.
Há dias em que estou aqui seguindo o movimento da natureza, aprendendo a delicadeza e a força da vida que se ma- nifesta em cada árvore, em cada bichinho que tem como única preocupação o ser.
Há dias em que converso com Deus, com o meu com- panheiro de vida, com o Sol, com as estrelas e escuto a poesia concreta das montanhas…
Agora a chuva bate no telhado e eu a recebo alegremen- te. Exponho-me totalmente; quero que ela me lave e purifique. Sinto que dissipei minhas nuvens negras e densas; a saudade me diz que é hora de voltar.
Outra estação está chegando, o tempo de aflição e can-
saço se foi.
Vim, agora voo, sou ave migratória…

Imagem de capa: Stone36/shutterstock







Psicóloga , escritora e avó apaixonada pelo seu neto e pela vida. Autora do livro "Varal de sonhos" e feliz demais com os novos horizontes literários que se abrem.