Às vezes ficamos bem quietinhos simplesmente porque não somos capazes de falar ao certo como estamos nos sentindo. Mas, ao mesmo tempo, ficamos torcendo secretamente para que alguém escute o nosso silêncio.

Dentro de um silêncio moram espaços incontáveis de dor, de sentimentos de abandono e de solidão. Há silêncios que são extremamente ruidosos, ensurdecedores até.

No entanto, há capítulos de nossas vidas em que nosso único companheiro garantido é esse estado de ausência de vozes, melodias que emudeceram e palavras que se perderam numa distância afetiva que já não consegue nos alcançar.

Há pedacinhos custosos em nossa trajetória que só podem ser dimensionados, compreendidos e vividos por nós mesmos, nesse lugar de quietude que nos entorpece os tímpanos.

A solidão e o silêncio são irmãos gêmeos com um enorme apego amoroso de um para outro. É dentro dos braços do silêncio que a solidão encontra abrigo. E é no esconderijo da solidão que o silêncio não carrega nenhuma culpa por não haver absolutamente nada que se possa dizer.

Somos feitos assim, no silencioso ventre da mãe, onde os sons externos e assustadores chegam filtrados pela proteção onipresente do líquido da vida que nos envolve. Nosso primeiro contato com o mundo exterior é rude e agressivo. Somos atingidos de forma impactante pelos sons desagradáveis de uma existência externa sobre a qual nada sabemos.

Mas, passado o susto, vamos nos reencontrando com melodias reconfortantes e familiares: o som da voz da mãe, a risada do pai, latidos de um cão, o murmurar de vozes às quais aos poucos vamos sendo apresentados.

Vínculos vão sendo criados com essas vozes e barulhos. Aprendemos a encontrar e reconhecer neles o alento necessário num momento de desconforto ou aflição. Aprendemos a esperar por eles como garantia de pertencimento. Estabelecemos com as vozes que amamos laços de dependência. E, por isso, esperamos que elas não nos faltem quando nossos silêncios internos estiverem gritando alto demais.

E é assim, justamente nos momentos de maior desorientação emocional que nos damos conta de que vez ou outra somos levados de volta àquele silêncio embrionário. É nesse momento que precisamos aprender que temos de poder contar com a nossa própria força, quando estivermos abandonados e abraçados à nossa própria dor.

É doloroso demais. Mas é preciso aprender que ninguém do lado de fora será capaz de ouvir o nosso silêncio aflito. Por mais alto que ele berre, não será ouvido. É nessa hora que a gente “desengole” o choro, deixa vazar a dor e aprende, na marra, que é preciso pedir ajuda, quando a ajuda não vem.

***

Imagem de Christopher Ross por Pixabay

Ana Macarini

"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"

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