Por Diego Engenho Novo

Para sobreviver, abra os olhos. Para viver, acorde. Logo em seguida, levante-se. Mas se o plano é viver, dê para si aqueles cinco minutinhos preciosos. Para sobreviver, limpe-se. Se está vivo, banhe-se cantando algo que te lembra infância. Escove bem os dentes, seja rápido, mas incisivo. Se prefere viver, faça caretas, desmascare as rugas novas, desmascare a si mesmo. Você pode sentir o cheiro e as cores das coisas que come, ou se contentar em respeitar as calorias. Quem vive, alimenta também a alma. Quem sobrevive, come.

Seja bom em alguma coisa na vida ou somente arrume um trabalho. Para sobreviver, seja prático. Para viver, prefira ser verdadeiro. Tenha piripaques pouco antes das reuniões. Reunião não é coisa de gente que vive. Mande mensagens durante o dia. Se você é sobrevivente, envie cobranças: de organização, de afeto, de dinheiro emprestado. Se você está vivo, prefira frases assanhadas, dê bom dia para um amigo que você nem sabe se mantém aquele mesmo número antigo, passe trotes inofensivos para a pobre da sua mãe, como dizer que o Palmeiras perdeu, e depois riam juntos.

Para sobreviver, vá sempre ao mesmo bar em que você já conhece as pessoas, o atendimento e o cardápio de cor. Se você está vivo será atraído por portinhas e turista da cidade em que sempre viveu. Quem sobrevive tolera gente que incomoda, porque sabe que um dia vai precisar delas. Quem vive incomoda quem só o tolera e não tem muito tempo para discutir quem tem o carro melhor. O carro melhor é o seu, ora bolas! Leve a gente pra passear.

Quem sobrevive, tem uma imagem a zelar. Quem vive, é livre dela. Quem sobrevive, mantém o curso da vida mesmo relativamente infeliz. Quem vive, jamais sobreviveria com a desconfiança de que lá na frente pode acabar não sendo feliz. Tem casamento que sobrevive. Mas amor, a gente sabe bem: ninguém sobrevive um amor. Amor a gente vive. E assim será: quem sobrevive, é. Quem vive, está. Quem sobrevive, tem. Quem vive, dá. Quem sobrevive, se culpa. Quem vive, perdoa-se. Quem sobrevive, busca a beleza, mas só quem vive a encontra.

Diego Engenho Novo

Escritor, publicitário e filho da dona Betânia. Criador do blog Palavra Crônica, vive em São Paulo de onde escreve sobre relacionamentos e cotidiano.

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