Ana Macarini

Sabe aquela sensação de ter um buraco no peito?

Enquanto os ansiosos sofrem com a necessidade de viver alguns ou muitos passos à frente, e lutam com a aflição de não poder controlar tudo, sobretudo aquilo que ainda nem aconteceu, os angustiados penam com a sensação de estarem aprisionados em situações do presente, em função de estarem sempre às voltas com a impressão de não terem feito a escolha certa; ou ainda pior, com a pressão interna de não ser capaz de escolher.

A angústia pode produzir reações físicas palpáveis e absolutamente reais. Há pessoas que relatam dores de cabeça generalizadas do tipo que lateja, como se o coração estivesse pulsando dentro das orelhas. Outras vítimas desse mal, chegam ao pronto-socorro com dificuldades para respirar, como se estivessem sendo acometidas por uma crise de asma. Outros, ainda, referem dores agudas no peito que as fazem temer um ataque cardíaco.

Sentir-se angustiado pode parecer algo extremamente vago para quem nunca foi visitado por essa sensação de estar contido, de corpo e alma, em um lugar pequeno demais, apertado demais, estreito e sem saída. Muitas vezes, a angústia é interpretada como algo que possa ser resolvido com soluções prosaicas e conselhos do tipo “Tente pensar em outra coisa!”; “Tenha fé!”; “Tome um chá!”. Quem dera fosse tão simples… Quem dera!

O fato é que esse descompasso emocional que provoca a sensação de ter um buraco no peito, é confundido com frequência com o distúrbio de ansiedade e a síndrome do pânico, ou com frescura mesmo. Infelizmente, ainda é bastante comum haver convicções preconceituosas e reducionistas acerca dos transtornos afetivos. Não raras vezes, aqueles que sofrem com crises de angústia são estigmatizados como pessoas fracas, sensíveis demais ou incapazes de lidar com situações difíceis. E se sentir-se angustiado já não é nada fácil, imagine ter esse aperto na alma agravado pelo julgamento alheio.

É claro que todos nós estamos sujeitos a ter de lidar com algumas oscilações na forma como lidamos com as questões mais desafiadoras. Há dias em que situações que já foram enfrentadas antes com alguma habilidade, podem parecer demasiado custosas e dolorosas. No entanto, à media que essa inquietude e sofrimento passam a ser uma constante e começam a ocorrer sem uma razão suficiente, é preciso que se reflita e perceba a possibilidade de haver nesse comportamento um sinal de que algo não vai bem.

Angústia é doença e seu diagnóstico e tratamento precisa ser feito por um profissional especializado; no caso, um Psicólogo ou Psiquiatra. E a partir da detecção do quadro, proceder ao tratamento mais adequado para cada caso, que pode ser tanto medicamentoso quanto terapêutico.

Lamentavelmente, grande parte das pessoas que sofrem de angústia demoram bastante para procurar ajuda, principalmente pela variação de sintomas físicos e emocionais que esse distúrbio pode causar. Coloca-se a culpa na pressão que se está sofrendo no trabalho, na insegurança econômica e política do país, nos desafios advindos dos relacionamentos afetivos, na imensa carga de exigência social por exibir uma vida feliz e bem-sucedida.

O que não podemos perder de vista, nunca, é que todo e qualquer sentimento que tire da gente o prazer pela vida e que cause algum tipo de perda de mobilidade afetiva, precisa ser visto como um sinal de alerta. Esse buraco no peito, não é motivo de constrangimento, nem sinal de incompetência; é apenas o seu corpo pedindo de você alguma atenção, para que sua alma possa voltar a respirar. Pare. Escute-se. Acolha-se. Sua mente agradece.

Cena do filme “Apenas o fim do mundo

 

Ana Macarini

"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"

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