Na ânsia de esconder defeitos, acabamos omitindo também as virtudes

Imagem de capa: Jacob Lund/shutterstock

Primeira olhada no espelho de manhã e lá está aquela espinha gigantesca, pronta para destruir o look do dia. E dá-lhe creme, base, pó, argamassa, o que for para esconder a intrusa.

Um descosturado no casaco, a botão que caiu, a unha quebrada, a carteira pelada, tudo a gente faz para esconder, para evitar as situações de constrangimento que podem, e se Murphy colaborar, devem aparecer pela frente.

Válido, por que não? Tenho todo o direito de não publicar o que me envergonha, e de fato, nos dias de hoje, talvez esteja literalmente falando de publicações nas redes sociais, mais do que qualquer outra forma de exposição.

Tudo bem, se não está agradando, é melhor tirar da vitrine.

Mas, e se me equivoco e passo então a esconder e maquiar as minhas melhores virtudes? E se, para conseguir aceitação, admiração, pertencimento, viro as costas para minhas melhores qualidades e assumo um tipo, um personagem?

Sem nos dar conta, estamos ficando cada vez melhores nisso. Por conveniência, por indolência ou por simples incompetência, estamos escondendo o que nos identifica, não estamos conseguindo nos respeitar como somos e abafamos o que não gostamos e até o que gostamos, para caber nos cubículos de cada padrão.

Está na moda pedir mais amor por favor, Ouvir a opinião alheia com respeito e sem agressões, isso já saiu de moda faz tempo.

Deixamos de lado nossas qualidades únicas para repetir como papagaios os bordões do momento. Deixamos de jogar gamão para ter mais tempo para os joguinhos solitários do celular. Paramos de surpreender as pessoas queridas com uma ligação e enviamos uma mensagem com carinha feliz, sapinhos e corações.

Adoro as conquistas tecnológicas, já não vivo mais sem elas. Mas me assusta o tabuleiro em que a massa humana está mergulhando, para virar um bolo só, não assumindo suas espinhas e virtudes.

Emilia Freire

Administradora, dona de casa e da própria vida, gateira, escreve com muito prazer e pretende somente se (des)cobrir com palavras. As ditas, as escritas, as cantadas e até as caladas.

Recent Posts

Novidade na Netflix: Glen Close e Mila Kunis arrancam lágrimas e aplausos em filme arrebatador

É impossível não se emocionar com a história profundamente humana e as atuações fenomenais que…

7 horas ago

Viúvo de Walewska quer que pais da jogadora paguem aluguel para morar em apartamento deixado pela filha

"Ele mandou uma notificação sem autorização judicial informando que os pais dela ou pagarão a…

8 horas ago

Desaparecimento de Madeleine McCann completa 17 anos e pais fazem declaração: ‘Vivendo no limbo’

Dezessete anos se passaram desde que Madeleine McCann desapareceu do quarto de um resort na…

18 horas ago

Pai é acusado pela morte do filho após obrigá-lo a correr em esteira em alta velocidade

O pai alegou que obrigava seu filho de 6 anos a correr em uma esteira…

23 horas ago

Mecânica de jogo: O coração da emoção de Aviator

Na nossa análise exaustiva, mergulhamos na mecânica do Spribe's Aviator, analisando como o seu formato…

23 horas ago

Show da Mandonna: Fiscais encontram facas enterradas na areia de Copacabana

Na madrugada desta sexta-feira (3), a Secretaria de Ordem Pública (Seop) do Rio de Janeiro…

24 horas ago