Quando virei a esquina, já não era mais a mesma

Talvez eu já tenha perdido as contas de quantas pessoas eu perdi na vida. Digo talvez, porque nunca cheguei a contar, na verdade. Acontece tão rápido que nem percebo se estou do lado de alguém ou só faço companhia aos rastros que ela deixou quando foi embora. E tudo bem o coração apanha, mas revida. Quando dei por mim, já não era mais a mesma, a pele já estava mais grossa e aguentando batidas mais fortes.

Aquilo que doeu se fez presente em cada passo, fazendo questão de ser lembrado para mostrar como é ter um machucado que não pode ser visto. Mas, depois disso, virou página. Não era tão insuportável quanto parecia ser ou, então, eu mudei e nessa parte da vida já não valia mais a pena. Prefiro acreditar nisso, que se eu superei não foi por que o que doía deixou de ser importante, mas que eu parti de um melodrama de quinta, água com açúcar, e amadureci.

O fato é que aprendi a não fazer mais estardalhaço por cada detalhe. Que seja suave e libertador, caso não; que seja o que for, mas longe de mim. Não preciso de histórias de sessão da tarde, sem clichê e casos contados. Já não me reconheço mais dentro desses roteiros. Não sou mais a iminência de um conflito, já superei meus resquícios de abandonos e hoje estou pronta pra quem quiser ficar.

Se render. Na real, é libertador. Entender que o que é nosso pode se esvair num milésimo ínfimo, mas que permanecer vazio é escolha nossa. Nós só precisamos nos curar o suficiente até nos sentirmos seguros para caminhar, depois disso, quantas são as possibilidades. E se for reparar, assim que nos colocamos em pé e damos nossos primeiros passos depois da queda, é só virar a esquina para perceber que não somos mais os mesmos. Alguma parte fica ali, na rua de trás, no passado. A percepção muda, a visão que antes varria certa área, se expande e alcança lugares mais longes. É o aprendizado, somos moldados para aguentar desdobramentos, e cada vez que perdemos o chão, aguentamos mais, nos decepcionamos menos. É isso que fica, no final das contas, as agonias transformas em versos. O bom é reler e ver que valeu a pena mudar.

Abracei minhas pernas e chorei o máximo que pude, me senti completamente sozinha, não pude escapar. Joguei tudo para o alto, mas caiu em cima de mim. Eu me perdi nas minhas rotas e achei que não iria encontrar a saída. E olha, que bom que me senti assim. Porque me alivia os pesos no ombro saber que consigo enfrentar o que tiver que vir. E sei que sim, pois renasci das minhas fraquezas, mesmo quando me senti tão frágil quanto folha de papel molhada. Não sei qual foi a ordem da equação, onde estava o “x”, juro; não tenho as respostas. Foge da minha capacidade explicar como acontece, como superamos, sem querer. Mas, acredito, na verdade, que cada um acaba encontrando sua própria fórmula. A gente bebe das tristezas como se fosse álcool, mas depois vomita porque não pertence ao nosso organismo. O corpo te prepara, é isso que não podemos esquecer. Que estamos preparados, podemos aguentar.

Quando virei a esquina, já não era mais a mesma.
Como é bom estar aqui.

Imagem de capa: ESB Professional/shutterstock

Najara Gomes

"Paulista. Pisciana. 20 anos de excesso de sentimentos. Nada como um gole de café e uma dose de drama pra passar o dia. Meu bem, eu exagero até nas vírgulas."

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