Pais devem aprender a não expor as crianças às brigas de casal, alerta psicóloga

Por Gladys Magalhães

Brigar, discutir, se desentender… Tudo isso faz parte da rotina de um casal, especialmente daqueles que estão juntos há algum tempo. Contudo, quando se tem filhos, essas situações podem ter consequências que vão além das duas pessoas diretamente envolvidas. Por isso, “os pais devem aprender a não expor as crianças às brigas”, alerta a psicóloga da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, Rita Calegari.

Segundo Rita, geralmente, depois das brigas, o casal faz as pazes e fica “cheio de amor entre si”. Já a criança fica fragilizada e assustada por dias. Além disso, se as discussões ocorrerem com frequência, os pequenos podem desenvolver distúrbios de comportamento e doenças. “Sem a base que deveria sustentá-las, ajudando-as a formar sua personalidade e protegendo-as, a lista de problemas de comportamento e doenças que podem aparecer é enorme: insegurança, ansiedade, terror noturno, bruxismo, alergias de pele, problemas de concentração na escola, irritabilidade, agressividade, tristeza, depressão, obesidade, anorexia, dificuldades de socialização, insônia, enurese [quando a criança faz xixi involuntariamente] e encoprese [quando a criança faz cocô involuntariamente], são apenas algumas”, explica.

Nem toda “briga” é ruim

Qualquer briga ou discussão em que os adultos fiquem exaltados, agressivos, nervosos ou chorosos pode ser nociva para a criança, em razão do descontrole emocional dos pais, presenciado por ela.

Entretanto, segundo a professora titular do Laboratório de Análise e Prevenção da Violência (Laprev) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams, nem toda briga ou discussão é ruim. Os adultos devem ficar atentos quando há violência física ou psicológica. “Apenas discordar, sem o uso de violência, faz parte da vida. A criança pode ficar preocupada, mas os pais devem explicar que se respeitam e estão apenas chateados. O que não pode é ter conflito violento, físico ou psicológico na frente dos filhos”, diz.

Rita acrescenta ainda que deve se ter cuidado redobrado com “as brigas em silêncio”, aquelas em que quase não se fala nada, mas há afastamento e hostilidade entre os pais. “Não se enganem: a criança sente esse clima e essa situação prolongada ou mal resolvida”. afirma.

Cada idade, uma percepção

Todos nós nascemos com a capacidade de atentar para o que nos faz mal. No entanto, as reações mudam conforme a idade e a maturidade. Crianças pequenas, de até seis anos, costumam se sentir inseguras e com medo diante de conflitos violentos. Porém, nesta fase elas estão menos atentas aos pais e mais ligadas em si. Logo, em uma situação mais branda, se os pais disfarçarem e atenderem suas necessidades, ela levará um tempo para sentir que há algo errado. A percepção vai aumentando com o tempo. Uma criança de 5 anos captará melhor a situação, em comparação a uma de 2, por exemplo.

Com o passar dos anos, ela perceberá olhos inchados de choro, expressões de tristeza ou raiva e poderá achar que são para ela, o que fará com que ela se sinta culpada, visto que é comum nesta idade, os filhos acharem que o humor dos pais é consequência do comportamento deles. “A criança é especialmente egocêntrica até uns sete anos e acredita que o humor dos pais é uma reação aos seus comportamentos bons ou ruins”, relata a psicóloga do Hospital São Camilo.

Por volta dos sete anos, mais amadurecida, a criança poderá entender melhor que os problemas dos pais não têm ligação direta com ela, mas ainda sentirá muito medo, pois o rompimento da família a atinge diretamente. É a fase na qual os pequenos passam de egocêntricos para egoístas. “A criança dessa idade é muito competitiva, não gosta de perder e não quer ver os pais brigando, pois podem se separar e quem perderá é ela. Já sabe que precisa ser cuidada por alguém, por sua estrutura familiar e egoisticamente buscará se preservar. Se os pais não estão felizes entre si, tudo bem. Mas, ela não poderá ficar infeliz”, afirma Rita.

Por fim, explica a psicóloga, as crianças mais velhas, acima dos sete anos, já têm a empatia mais desenvolvida. Assim, elas sofrem ao presenciar brigas severas, pois tentarão “ajudar” os pais a resolverem seus conflitos. “Ao ficar do lado de um dos pais, a criança pode se sentir traindo o outro e, para piorar, alguns pais fazem os filhos passar por essa escolha. Quem ela  apoiará: o pai ou a mãe?”

Rolou uma briga. E agora?

Ainda que se tome todo cuidado, conflitos mais duros na frente dos filhos podem acontecer. Nestes casos, dizem as especialistas, os pais devem conversar com a criança e explicar que ela não tem culpa do que ocorreu e, em uma linguagem simplificada, dizer o que houve e como ficarão as coisas no futuro.

Se, por ventura, o relacionamento chegar ao fim, é essencial respeitar o ex-parceiro (a) e procurar não falar mal dele para os filhos. Os adultos também não podem nunca envolver a criança nos conflitos após a separação. “Isto é uma violência emocional”, finaliza Lúcia.

Fonte indicada: Crescer

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