Por Maria Cristina Ramos Britto

A automutilação é um assunto tabu, ainda ligado a práticas religiosas e adotado por algumas seitas como forma de expiação dos pecados. Trata-se de transtorno de comportamento grave que faz com que a pessoa se machuque com a intenção de aliviar dores emocionais e desconforto psíquico, ao experimentar emoções negativas, como tristeza, raiva, angústia, frustração etc. O indivíduo sente o ato como incontrolável, pratica-o e depois experimenta culpa e sensação de fracasso, caindo num ciclo vicioso de sofrimento e tentativa de aliviá-lo. A automutilação está relacionada a sintomas de depressão e ansiedade, comportamento antissocial, de alto risco de uso de álcool, drogas e tabaco. É verificada em casos de transtorno bipolar e transtorno de personalidade borderline, sinalizando problemas de autoaceitação e baixa autoestima.

O transtorno é mais comum entre as mulheres, na faixa dos 15 aos 24 anos e, ao contrário do que se acredita, o comportamento não visa necessariamente chamar atenção, fato demonstrado pelo esforço de esconder as feridas decorrentes da autoagressão com roupas que cubram o corpo e a preocupação de dar explicações para as mesmas, sentindo vergonha quando alguém comenta sobre elas. Caracteriza-se por agressões como cortes nos braços, pernas, coxas, abdome; queimaduras com cigarro, por exemplo; batidas do corpo ou da cabeça contra a parede; morder-se (mãos, lábios, língua, braços); furar-se com agulha, arame, prego, caneta, clipe de papel; beliscar-se; apertar ou reabrir feridas (dermatotilexomania); arrancar cabelos (tricotilomania), cílios e sobrancelhas; esmurrar-se ou esmurrar superfícies duras; chicotear-se; enforcar-se por alguns instantes.

Em relação aos jovens, alguns sinais de que algo não vai bem são mudança visível do comportamento habitual, como desinteresse por atividades antes apreciadas, queda do rendimento escolar, afastamento dos amigos e insistência em vestir roupas que escondam o corpo, principalmente os braços, mesmo no calor. O tratamento indicado é a psicoterapia, que tem por objetivo auxiliar a pessoa a entender suas emoções e lidar com elas de forma mais adaptativa.

Este texto foi originalmente publicado em 6 de setembro de 2013, no  blog Psicologia e Saúde, e está registrado na Biblioteca Nacional, assim como os outros textos da autora.

Maria Cristina Ramos Britto

Psicóloga com especialização em terapia cognitivo-comportamental, trabalha com obesidade, compulsão alimentar e outras compulsões, depressão, transtornos de ansiedade e tudo o mais que provoca sofrimento psíquico. Acredita que a terapia tem por objetivo possibilitar que as pessoas sejam mais conscientes de si mesmas e felizes. Atende no Rio de Janeiro. CRP 05/34753. Contatos através do blog Saúde Mente e Corpo.

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