Marcel Camargo

Certas pessoas nem merecem um lugar na fila do meu ranço

Cada vez mais, eu questiono, mentalmente: “quem é você, na fila do meu ranço?”. Há muita gente que não se encontra, mas se acha. Há muita gente se autoproclamando dona da verdade, da razão inconteste. Há muito ser supremo do universo por aí. Nunca o céu sobre nossas cabeças foi tão pequeno para o tanto de gente que se sente estrela.

Amor próprio é saudável e necessário, pois, caso não nos demos valor, não encontraremos ninguém que nos valorize. No entanto, isso não significa querer ser mais do que se é, nem achar que o mundo terá que se curvar à sua inteligência, à sua beleza, como se fosse obrigação universal todo mundo se importar com você. Uma das maiores sabedorias consiste exatamente em termos convicção quanto às nossas potencialidades e nossas limitações.

Isso porque é preciso que nos conheçamos, que nos aceitemos no que somos e temos dentro de nós, para que não sejamos feridos pelas impressões equivocadas de gente que mal nos conhece. Ninguém consegue ferir quem se aceita e quem se ama de verdade, pois se trata de pessoas que possuem verdades firmadas dentro de si, pessoas que entendem as batidas do próprio coração. Assim, nenhuma mentira lá de fora é capaz de abalar a firmeza verdadeira de quem sabe o que tem a oferecer.

Muitos se ofendem com o que fazemos, dizemos ou postamos nas redes sociais, mesmo que se trate de afirmações genéricas, que não são direcionadas a ninguém em específico. Vivem rebatendo as pessoas, inclusive quem nem os chamou na conversa. Saber quais são os contextos que nos dizem respeito nos livra de passar vergonha, intrometendo-nos onde não fomos solicitados.

Cada vez mais, eu me surpreendo com as pessoas, recebendo reprimendas de quem mal sabe o meu nome completo, tendo meus perfis invadidos por gente que agride sem nem saber onde eu moro. Não adianta, ou aprendemos a ignorar, ou enlouquecemos e desenvolvemos gastrite. Eu, particularmente, tento sempre fingir demência quando topo com comportamentos lunáticos, afinal, já tem muita coisa na fila do meu ranço e ali não cabe gente chata.

***

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “O Desprezo”.

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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