Marcel Camargo

Às vezes, segurar forçado machuca mais do que deixar ir

Imagem de capa: David Pereiras/shutterstock

Muitas vezes, ficamos presos ao que pensávamos ser eterno, sem conseguirmos perceber que ciclos se fecham, que as pessoas mudam, os momentos se transformam e a vida tem que continuar, mesmo que no modo inverso ao de nossos desejos.

Muito difícil termos a noção exata do limite entre a insistência indigna e a tentativa necessária. Complicado percebermos quando ultrapassamos os limites de nossa dignidade, enquanto lutamos para manter conosco alguém que, às vezes, já nem está mais ali de fato há tempos. Isso porque existem rompimentos em que apenas uma das partes quer sair, mas a outra quer ficar a qualquer custo. E esse qualquer custo, infelizmente, tem um preço alto demais.

Separar-se dói, tanto para quem toma a decisão de terminar quanto para quem discorda dela. Muito provavelmente, ambos estarão tristes, porque um relacionamento envolve muito mais do que a vida dos dois, mas traz para junto de si outras pessoas, outras famílias, aumentando o peso daquilo que desaba. Não somente os parceiros se separam, porque cada um leva consigo muita gente, vários momentos, sentimentos, emoções. Mundos se dividem então.

Embora seja muito complicado conseguirmos controlar nossas ações em momentos turbulentos, como aqueles que compõem o processo de separação entre parceiros, teremos que tentar perceber o quanto a dor está nos afastando de nós mesmos, o quanto o ato de forçar a situação vai achatando a nossa dignidade, a ponto de nos tornarmos menos gente, menos humanos. Ninguém merece despojar-se de tudo o que é por conta de alguém que decidiu não mais ficar.

A rejeição é assim mesmo, ninguém parece estar pronto para enfrentá-la, porque a gente não consegue lidar com o fim de algo pelo que tanto se luta, em que tanto se acredita. Na maioria das vezes, ficamos presos ao que pensávamos ser eterno, sem conseguirmos perceber que ciclos se fecham, que as pessoas mudam, os momentos se transformam e a vida tem que continuar, mesmo que no modo inverso ao de nossos desejos.

Lógico que vai doer muito, que vai ser uma das piores travessias de nossas vidas, mas deixar de insistir em alguém que já está de malas prontas será o melhor que poderemos fazer a nós mesmos naquele momento, porque a dor da partida passará, mas uma cicatriz que se alimenta diariamente, enquanto mantemos à força alguém por perto, nunca para de sangrar. Muitas vezes, o que é melhor para as nossas vidas não é aquilo que queremos, mas aquilo que machuca menos. Optar por uma dor que o tempo cura será, então, o caminho.

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

Recent Posts

Minissérie que dramatiza história verídica com honestidade brutal é uma das melhores produções da Netflix

Uma série poderosa e comovente que mergulha nas profundezas da experiência humana, contando uma história…

7 horas ago

Zeca Pagodinho é tietado por Temer, não o reconhece e diz: “Te conheço de algum lugar”

Em um evento em São Paulo, o ex-presidente pediu para tirar uma foto com o…

7 horas ago

Passageiro fica preso em banheiro de avião durante voo e recebe bilhete: “Tentamos o nosso melhor”

Um voo da SpiceJet de Mumbai para Bengaluru, na Índia, transformou-se em uma experiência angustiante…

1 dia ago

WhatsApp vai deixar de funcionar em 35 modelos de smartphones a partir desta quarta-feira; saiba quais!

Se você possui um dos modelos de celular da lista, é hora de fazer um…

1 dia ago

Socialite conta horror de 10 anos em cativeiro de luxo: “Estava puro osso”

Uma história de cárcere privado e manipulação veio à tona no prestigiado Edifício Chopin, na…

2 dias ago