Em um contexto de liquidez, de fragilidade das relações humanas, o amor parece ter se tornado banal. As pessoas até falam “eu te amo”, mas a fraqueza semântica das palavras logo demonstra o erro sentimental.
E não é que a gente não saiba o que é amor; é apenas a tentação de sempre sucumbir à ilusória facilidade. É o desejo permanente de flertar com a saída. Talvez por isso, a porta sempre esteja entreaberta. Fechá-la pode trazer muitos riscos. Mas existe amor sem risco?
O velho safado, Charles Bukowski, diz que: “O amor é como tentar carregar uma lata de lixo abarrotada nas costas, nadando contra a correnteza num rio de mijo”. Obviamente, a afirmação do Buk pode causar estranhamento e até mesmo assustar os mais “ingênuos”, entretanto, o que se esconde por trás dessa frase é que quando se trata de amor não existe facilidade, tampouco segurança permanente. O amor, como condição humana, é sempre inconstante, vulnerável, difícil e frágil; sendo necessário enorme esforço e dedicação constantes para que o verbo não perca a sua força ativa… e criativa.
Aquilo que não é revisto, revisitado, reorganizado, acaba por se tornar obsoleto e não fazer sentido no tempo em que está. Por isso, o amor guarda esse caráter criativo, embora seja necessário invariavelmente ativá-lo e tornar a ativá-lo de novo, a fim de que não caia no ostracismo e se torne indiferente.
A bem da verdade, não é tão fácil de dedicar profundamente a um sentimento, a uma relação. No entanto, é preciso entender que não é banalizando o amor que ele se torna presente. Não é pela quantidade de pessoas que se mede a qualidade afetiva da vida de alguém. Tampouco a quantidade de mensagens que se recebe ou eu te amos que se escuta, porque mais importante do que a velocidade da fala é a demora da compreensão.
Mas, vivemos tempos líquidos nada é para durar. O que trocando em miúdos significa que nada possui muita importância ou deve possuir. Desse modo, quantidade pode ser sinônimo de qualidade, a ilusão pode ser tomada como realidade, a gritaria pode soar como música, e o amor pode ser comprado em qualquer esquina e vendido na próxima, com leveza e tranquilidade.
É como se as relações não possuíssem rusgas ou algo a ser acertado, ajustado, melhorado. Aliás, não existem rusgas, já que o terreno superficial no qual essas “relações” caminham sequer permite que se atinja pontos de tanta instabilidade.
Apesar disso, todos sabem que relacionamentos que não desassossegam a alma não merecem a alcunha de amor, pois os nossos avessos só são acordados quando o nosso íntimo é tocado. Portanto, sem profundidade não existe toque, e sem toque não existe amor, já que lembrando Whitman: “Que pode haver de maior ou menor do que um toque?”.
Todavia, não é possível sentir-se com a alma despida e ao mesmo tempo desperta sem que grande esforço seja empreendido na aproximação dos intervalos que nos formam. Sendo assim, o amor que só percorre ruas limpas se liquefaz rapidamente, porque para que permaneça e se torne um boêmio, conhecedor e frequentador de todas as ruas, inclusive, as mais escuras, é preciso coragem e esforço, pois como melhor define Bukowski: “O amor é para os que aguentam a sobrecarga psíquica”.
Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “O Fabuloso Destino de Amelie Poulain”
É impossível não se emocionar com a história profundamente humana e as atuações fenomenais que…
"Ele mandou uma notificação sem autorização judicial informando que os pais dela ou pagarão a…
Dezessete anos se passaram desde que Madeleine McCann desapareceu do quarto de um resort na…
O pai alegou que obrigava seu filho de 6 anos a correr em uma esteira…
Na nossa análise exaustiva, mergulhamos na mecânica do Spribe's Aviator, analisando como o seu formato…
Na madrugada desta sexta-feira (3), a Secretaria de Ordem Pública (Seop) do Rio de Janeiro…