Todo mundo tem alguém que foge. Foge da verdade nua e crua, foge das responsabilidades, foge dos boletos na caixinha dos correios, foge sabendo que todos esses fantasmas continuam lá mesmo que você tente lhes dar as costas. Tá tudo bem fugir às vezes e não enfrentar os problemas no dia que o chefe ligou gritando sem razão ou quando a TPM tá latente. Porém, de todas as fugas, a mais covarde delas é a de quem foge da terapia.

Foge da terapia quem foge de si mesmo, quem não quer enfrentar sua própria essência por medo de ver o que tem lá no fundo do seu íntimo, ou pior: por saber exatamente o monstro que está encolhidinho lá dentro.

Foge da terapia quem sabe que não é tão bom quanto diz ser e quem se olha no espelho e não sabe quem vê no reflexo. Foge quem não entende que a terapia é um caminho de reencontro consigo mesmo, ou quem sabe e sente que esse reencontro vai doer.

Foge da terapia quem não quer revisitar o passado e passar uma vassoura na sujeira que deixou por lá. Quem não tem coragem de se assumir com suas qualidades e defeitos e prefere ficar escondido atrás de uma xícara de café com sorriso amarelo pras visitas.

Foge da terapia quem mente que não tem mais nada pra dizer, mas por dentro tá berrando – de raiva, de medo, de dor, de pavor de si próprio. Foge quem não se perdoa, quem não quer enxergar as próprias falhas e conviver com elas da forma mais pacífica possível.

Foge da terapia quem tá brigando sozinho e acha que o mundo é um conjunto de inimigos que vão lhe sufocar. Foge quem não confia que existe amor no outro, quem não se permite amar, quem ama demais até se afogar na dependência afetiva, quem se acha perfeito mesmo conhecendo todas as suas imperfeições.

Foge da terapia quem é covarde, quem tá acomodado na mesmice e não quer ser melhor. Foge quem não busca desafios, quem não sobe degraus, quem não tira nada do papel e transforma em atitudes. Foge quem se encosta no outro – emocional ou financeiramente. Quem não bate no peito e assume a responsabilidade da sua própria vida e das suas próprias vaidades.

Foge da terapia quem se faz de vítima, de coitado. Quem vive choramingando dizendo que nasceu pra viver com pouco, quem não luta contra o desemprego, quem aceita o sexismo de cabeça baixa, quem se submete aos horrores e abusos que ainda cercam esse planeta Terra.

Foge da terapia quem acha que não tem voz, ou quem acha que ninguém vai ouvir. Quem não tem coragem de pôr pra fora tudo de ruim que tá guardado lá dentro, quem desistiu de viver mas continua respirando, cozinhando e sugando energia dos outros.

Se você leu até aqui e se identificou, se você chegou no penúltimo parágrafo e odiou cada palavra escrita, saiba que você ainda pode mudar. Pode mudar seus sentimentos, seus pensamentos, seu dia de hoje e seu dia de amanhã. O passado pode ser perdoável, mas ele nunca mudará. A terapia te ajuda a colocar tudo numa caixinha e seguir em frente, se desafiando dia a dia a evoluir.

Você não está sozinho. Estamos todos caminhando para sermos melhores e para encontrarmos a nossa paz. O medo, a insegurança e os sentimentos duros de digerir não são tão importantes quanto o bem mais precioso que você recebeu: a sua vida. Lute por sua felicidade. Você não está aqui em vão. A responsabilidade de ser melhor é somente sua. Não desperdice nem mais um segundo com pensamentos de dor ou dúvida. Vai, corre, marca uma sessão. Vai doer, mas vai passar. Recomeça hoje. O ano ainda não acabou. Ainda dá tempo. Você vai conseguir. Você leu até aqui. Você já conseguiu.

Photo by YURI MANEI from Pexels

Ana Carolina Faria Bortolo

Turismóloga e Administradora de Novos Negócios por formação. Escritora, pintora e dançarina por vocação. Planejadora de eventos, bartender, agente de viagens e vendedora por profissão. Garçonete de navio por opção. Vi o mundo e voltei, e de todos os rótulos que carrego na bagagem, só um me define bem: sou uma ótima contadora de histórias.

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Ana Carolina Faria Bortolo
Tags: terapia

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