O que aprendo com um vizinho barulhento

Aprendo todos os dias que tolerância tem limites.
Reforço mentalmente a certeza de que gritar não educa, não resolve, não diverte, não garante poder, não prova razão.
Descubro que vontade de ir para longe dali, pode se transformar em meta de vida.

Um vizinho barulhento pode morar dentro da casa da gente. O nível de incômodo é tanto, que ele parece sempre estar sentado na beira da cama, cantando, repetindo mil vezes o mesmo refrão, fazendo sua versão particular para um jingle, imitando Fred Flintstone.

O vizinho barulhento não se conforma só com sua própria voz. Ele acha pouco. Então, arrasta móveis, deixa cair de tudo no chão, traz vinte amigos para seu apartamento num domingo a noite, assiste ao futebol urrando e batendo com o pé no chão. No chão não, na minha cabeça.

Se tem um cachorro, provoca-o até que o bicho não pare mais de latir e pular pelo apartamento.
Se tem filhos, desde cedo os ensina a arte dos gritos, dos brinquedos jogados no chão com força, das bolas na parede, do concerto com o pianinho às duas da manhã, dos arrotos barulhentos.
Se tem filhos e cachorros, aprendo que os incomodados realmente devem se mudar o quanto antes.

O vizinho barulhento é ainda mais insuportável, se comparado a vizinhos conscientes. Nessa hora, não há nada que o defenda. E, se a tentativa é de suportar sem reclamar dia e noite, por graças, às vezes os vizinhos do prédio ao lado reclamam por mim. É, nessa hora aprendo que um ruído chega longe!

Ah, não deixo de aprender alguns palavrões diferentes quando o futebol é o tema do dia.
E, como se quisesse, mas não quero, aprendo também que o filho é dotado como o pai, coisa que ele repete junto à janela, para que eu não consiga esquecer, e lembre sempre que o encontrar no corredor.

Mas o danado é bonzinho, e, ao me encontrar na entrada, abre sempre um sorriso e cumprimenta com alegria. O que eu aprendo com isso? Que, ainda que eu não creia, um dia ele vai se mancar que alguém mora no apartamento de baixo.

Isso serve para vizinhos, amigos, amores, família, e todas as relações em que o barulho atrapalha a verdadeira mensagem que se quer passar.

Imagem de capa:  shutterstock/Valery Sidelnykov

Emilia Freire

Administradora, dona de casa e da própria vida, gateira, escreve com muito prazer e pretende somente se (des)cobrir com palavras. As ditas, as escritas, as cantadas e até as caladas.

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