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O problema não é ser conservador. É conservar porcaria.

Não, nem todo conservador é um babaca, reacionário, antiliberal e essas coisas que só atrasam a vida. Acredite. Tem um monte de gente boa por aí conservando o que é preciso conservar.

Eu mesmo encontrei dois deles agorinha. Um casal. Estão juntos há uma década. Não se casaram no papel, mas têm uma relação estável e monogâmica. São dois belos conservadores! Os dois trabalham, guardam os dias santos, respeitam pai e mãe, almoçam em família, trocam presentes no Natal e nos aniversários. São felizes, se amam de verdade e agora estão na fila para adotar uma criança. Ah! Os dois são homens.

Sim, porque “conservar” e “renovar” não têm de ser ideais antagônicos e incompatíveis em lugar nenhum. Todos temos o direito de conservar o que quisermos, inclusive a nossa mais sagrada liberdade de sermos quem quisermos ser. Porque todos somos livres para ser quem somos de fato.

Confesso. Eu sou um sujeito conservador! Conservo mesmo, sem culpa e sem medo, um caminhão de coisas. Lembranças e amigos, figurinhas e gibis. O que há de mau nisso? Conservo medos, saudades, tristezas e esperanças. Eu conservo, sim!

Guardo comigo as lembranças da minha família como pequenas joias. Conservo minha bisavó no coração e não abro mão. Agora, isso não quer dizer que eu deseje viver como ela vivia na primeira metade do século passado. Nem que eu pense exatamente como ela pensava ou tome as mesmas decisões que ela tomava. São coisas diferentes, épocas diversas. E o fato de eu conservar o que bem entender do tempo da minha bisavó não faz de mim um retrógrado, não.

Francamente, conservadores somos todos. A questão é pensar bem no que estamos conservando. Há pessoas que conservam o que só é bom para elas mesmas e ruim para os outros: preconceitos, favorecimentos pessoais, tradições duvidosas, privilégios de classe, tabus medonhos e outras antiguidades no mau sentido. São espécies que param no tempo.

Por outro lado, tem gente que conserva seus valores e respeita os dos outros. Gente que mantém suas próprias preferências e deixa o outro preservar as dele. O que há de errado com isso?

Ruim é conservar coisa inútil e se recusar a seguir adiante. É não admitir que os costumes mudam, que o mundo evolui, que dois homens ou duas mulheres podem, sim, ter filhos e formar famílias lindas, felizes, admiráveis! Maus conservadores são horríveis, péssimos, intragáveis.

Mas ahh… quem conserva o que vale a pena merece uma medalha, um prêmio, um título honoris causa. Essa gente, ainda que vez ou outra pareça conservadora, é quem deixa a vida novinha todos os dias.

André J. Gomes

Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.

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