JORNALISMO

Não compartilhar informações sobre ataques impede “gratificação” dos criminosos e ajuda a evitar novos casos

Nos últimos tempos, temos visto uma série de ataques em escolas e creches no Brasil que causam não só um sentimento de insegurança, mas também geram reflexões sobre questões comportamentais que podem afetar a percepção do espaço escolar como um lugar de acolhimento. O compartilhamento de imagens e vídeos dos agressores e dos ataques nas redes sociais, mesmo em grupos privados, pode ter um efeito contagioso, como tem sido observado em estudos realizados em universidades nos Estados Unidos.

De acordo com o projeto K-12 School Shooting Database, somente em 2023 foram registrados 96 incidentes envolvendo armas em escolas nos Estados Unidos. Na era das redes sociais, a disseminação de informações, ou desinformação, pode ter um papel importante para a construção desse cenário. Um indício disso é que, após o ataque na Escola Estadual Thomazia Montoro, em São Paulo, a Secretaria de Segurança Pública registrou sete boletins de ocorrência com possíveis planos de ataques a escolas feitos por adolescentes.

Segundo a psicóloga Josie Conti, idealizadora do site CONTI Outra, é natural que casos como esses despertem curiosidade, no entanto é preciso ponderar as possíveis implicações do compartilhamento indiscriminado de informações sobre esses crimes.

“Notícias trágicas são amplamente consumidas pelo público geral. Para além da curiosidade natural, as pessoas que consomem esses conteúdos tentam encontrar respostas para situações não previstas e que geram uma grande ansiedade. É como se, a cada nova informação, houvesse uma tentativa pessoal de construir uma lógica que dê algum sentido ao fato ocorrido. Entretanto, ao consumir e compartilham esse tipo de conteúdo, elas acabam promovendo uma ampla divulgação do ato criminoso. E, para além disso, transformam a pessoa que cometeu o crime em uma espécie de subcelebridade. E é aí que identificamos o risco do EFEITO CONTÁGIO, pois, nesse momento, outras pessoas que têm planos de realizar crimes ou, de alguma maneira, se ‘vingar da sociedade’, podem recriar situações semelhantes de modo a também receberem essa notoriedade pública.”, explicou a psicóloga.

Josie destaca ainda a importância de evitemos consumir e compartilhar matérias e informações que identifiquem os criminosos e seus métodos, bem como nome, idade, foto e tipo de armamento utilizado.

“Qualquer informação que identifique o criminoso deve ser evitada e até denunciada. Enquanto não somos capazes de impedir esse fenômeno com mais prevenção e melhores políticas que cuidem da saúde mental de nossos jovens, ações como essas tem um efeito de “diminuir” (redução de danos) a gratificação daqueles que cometem esses crimes e se vangloriam deles como se fosse uma espécie de troféu às avessas.”, ponderou a profissional.

Josie Conti discorreu mais sobre o tema na sua live de hoje (06/04) no Instagram pelo projeto ‘CONTI Comigo’, que diariamente promove dicussões sobre temas relevantes na página Conti Outra. Confira abaixo:

Conheça também o livro “Todo pé na bunda nos empurra para frente”, de Josie Conti.

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Felipe Souza para a Conti Outra.
Foto destacada: Reprodução.

Felipe Souza

Felipe Souza é escritor, jornalista, editor de conteúdo para a internet e agora também podcaster. E, além disso, um leitor voraz e um curioso sobre os mais diversos assuntos.

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