Imagem de capa: Adrian_am13/shutterstock
Um vasinho que minha filha pintou quando era pequena… quebrou. Colei uma vez, segurou um pouco, meio falhado, faltando pedaços. Quebrou de novo, meu coração apertou novamente. Não colou mais. Foram duas agonias que poderiam ter sido evitadas. A fragilidade da primeira cola e a frustração da segunda.
Assim é também na vida, nas relações, no que se constrói e destrói. Se quebrou, escangalhou, rompeu, se partiu, é momento de se despedir e descartar. Abrir espaço para o novo, o inteiro.
O apego faz a gente tentar reverter os danos, fazer voltar ao normal, fingir que nada aconteceu e tocar para frente. Mas, e não vale para tudo, mas vale para muita coisa, às vezes não tem jeito. O conserto fica pior do que o original, a ilusão do refazimento cria sombras e sustos a cada movimento. Uma fragilidade insuportável!
Por outro lado, estranhamente sofremos pelos rompimentos, pelos cacos espalhados, por comunicações cortadas, mas diariamente descartamos um monte de aquisições e possibilidades, concentrados que estamos em colar pedaços do que não irá funcionar mais.
Um tecido rasgado não volta ao normal, ainda que a costureira seja fantástica. Uma relação esgarçada, também não. Mesmo que se faça um esforço supremo para juntá-la novamente. E constatar que não foi possível, é a segunda dose do sofrimento.
Eu gostava demais do vasinho pintado. Mas eu também gostava demais de um telefone que quebrou, de um amor que me deixou, de uma amizade que não rolou. É assim mesmo, a gente gosta demais, se dedica enquanto a coisa tem vida, cuida e tenta conservar.
Mas, se vier a quebrar, é importante discernir se vale à pena tentar colar. Muitas vezes é melhor se concentrar na despedida, no processo de luto e desapego, do que na fragilidade de uma cola que nem quer essa responsabilidade toda para si.
Deixar sair da vida, da posse e do campo de visão é tão importante quanto observar o que diariamente se apresenta por inteiro para nós.
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