Por Adriane Sabroza

Por que é tão importante escolher, ou melhor, cuidar das palavras que usamos ao nos referirmos aos nossos filhos?

Simplesmente porque os filhos acreditam nos pais.

E este fato faz toda a diferença.

Quando a criança ouve que é valiosa, querida, divertida, criativa, linda, amada, etc, ela se torna aquilo que os adultos (que lhe são referência) lhe dizem que são. Do mesmo modo, quando a criança cresce ouvindo que não presta pra nada, que só faz burradas, que é egoísta, mal educada e tantas outras palavras negativas, certamente que ocorrerá o mesmo. Ela se tornará aquilo que disseram que ela é.

Por isso devemos ter todo o cuidado com o que é dito à criança, estas palavras, ditas e repetidas por aqueles a quem elas dão o maior crédito, em quem confiam com toda a sua força, se tornam o alicerce da identidade em construção da criança. Quanta responsabilidade! E o que fazer quando o repertório de palavras positivas dos pais ou cuidadores for tão pequeno, tão limitado, em razão de uma infância também pobre neste sentido? E quando eles mesmos não ouviram nada de positivo e não foram rodeados de palavras carinhosas enquanto cresciam? Devemos nos contentar com o velho ditado “A gente só pode dar aquilo que recebeu”?

Penso que não. Quando trabalhamos com famílias em situação de violência, vemos que precisamos ir além..

Precisamos olhar para as crianças que ainda se escondem dentro dos pais, crianças muitas vezes raivosas, magoadas, solitárias e que, muitas vezes, foram vítimas de um abandono emocional atroz. Precisamos não só olhar, mas resgatar o não dito, nos aproximar da dor numa tentativa (muito difícil, é verdade) de ajudar esse adulto a olhar com um pouco mais de amor essa criança interior. Ajudá-lo a construir uma ponte, uma ligação entre o presente e o passado, para que o adulto de hoje possa atravessá-la junto com essa criança de ontem, que até então estava lá, esquecida, sozinha, magoada e sofrida. Só então, depois deste “acerto de contas” com a sua própria criança, poderá este adulto olhar verdadeiramente para o seu filho(a). sem o véu da mágoa , do ciúme e da inveja pela oportunidade que esta criança tem e que lhe fora roubada. Só então ele estará pronto, ou ao menos em melhores condições de acolher seu filho da maneira adequada.

Um coração feito de pedras jamais será um lugar de aconchego. Há que se livrar do que fere, da aridez dos sentimentos e retirar os espinhos para que haja lugar para o amor, tão mais macio e acolhedor.

Neste processo de cuidado da criança do passado, através da criança do presente, haverá lacunas que jamais poderão ser preenchidas e temos que ter esta consciência. Mas, uma vez que a criança ainda está lá, sempre será possível fazer alguma coisa.

Que sejamos capazes de ouvir este pedido de ajuda dos pais através do que nos chega hoje, ou seja, do sofrimento de suas crianças. Que possamos fazer isso, sem perder de vista a responsabilização por quaisquer violação de direitos, mas sem julgamentos desnecessários, apenas com a escuta e o olhar que lhes foi negado antes. Para que sejam capazes de perdoar seus pais, para que possam reconstruir parte do caminho e, principalmente, para que não transformem seus filhos em mais tantas outras crianças esquecidas.

Adriane Sabroza

Psicoterapeuta por paixão e opção, mãe de três meninas lindas, minha maior realização e, nas horas vagas, aprendiz de escritora, sem nenhuma pretensão.

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