Por Marcela Alice Bianco

AH O TEMPO! Quantas vezes o sentimos escorrer entre os dedos das mãos? Quantas vezes gostaríamos que ele passasse mais depressa ou que nunca passasse? Quantas vezes sentimos vontade de aprisioná-lo para eternizar um único momento? Mas a experiência do tempo é algo que nos acompanha ao revés do nosso desejo.

Desde que nascemos, o tempo é um dos grandes regentes da nossa vida. De antemão, precisamos de um tempo para nascer. Nossa gestação e nascimento é nossa primeira lição sobre o Tempo. É necessário um prazo para estarmos prontos para a vida, para que cada parte do nosso corpo se constitua e mature adequadamente. Caso isso não ocorra há risco de vida. Assim como as borboletas, que necessitam de um tempo vivendo como lagartas e depois encasuladas, nós também precisamos estar prontos para nossa metamorfose!

A desdém dessa nossa primeira aula sobre o tempo, há quem passe a vida acelerado, preocupado com o porvir. Tentativa de nascimento prematuro, sem perceber que ainda não é chegada a hora! Mas não conseguem respeitar o tempo e com isso permanecem ansiosos.

A ansiedade se relaciona diretamente com a forma como lidamos o tempo. Nela vivemos pré ocupados com o futuro. Tentamos mentalmente determinar todas as variáveis do evento que está para acontecer. E isso nos corrói por dentro, de modo que chega a doer o estômago. Ao querer acelerar o tempo, aceleramos os batimentos cardíacos, a respiração… todo nosso corpo ressoa nossa ansiedade. Mas quando é finalmente chegada a hora, o processo ocorre à revelia de muitas das coisas que fantasiamos e nos preocupamos. Mas como é difícil tolerar essa ideia de ausência de controle, não é mesmo?

Para isso precisamos recuperar um senso primordial de CONFIANÇA NA VIDA. Nos despir da insegurança e da ideia de que podemos controlar as coisas. Entender que a vida é um processo, e que assim como o nascimento, tem um propósito e um sentido que se revelará para nós durante seu curso e não antes da passagem.

Como menciona o Psiquiatra Junguiano Carlos Byington,os pais ensinam aos filhos como é a vida, relatando-lhes as experiências pelas quais passaram. Os mitos fazem a mesma coisa num sentido muito mais amplo, pois delineiam padrões para a caminhada existencial através da dimensão imaginária”. Assim, podemos recorrer aos mitos para compreender a questão do tempo. E eis que apresento a vocês dois deuses e três senhoras do destino relacionados na mitologia grega.

O primeiro deus é KRONOS, Senhor do tempo e das estações. Relaciona-se ao tempo linear e cronometrado. Ele nos traz a noção do tempo cronológico e sequencial e, consequentemente, devorador. Tempo que corre e que caminha para um fim. Podemos pensar que, quando ficamos ansiosos e preocupados com o tempo que ainda não chegou é como se percebêssemos a presença de KHRONOS pairando sobre nós e então respondemos ao medo do desconhecido em toda a extensão do nosso ser.

 O segundo deus é KAIRÓS, deus do tempo oportuno. Filho de Zeus e de Tykhé (divindade relacionada a fortuna e prosperidade), era um jovem calvo que possuía um único cacho de cabelos na testa. Esse deus era conhecido por ter uma agilidade incomparável, sendo que enquanto corria só era possível agarrá-lo pelo cacho, estando assim de frente a ele.  E isso durava apenas o instante de sua passagem, sendo impossível persegui-lo e trazê-lo de volta. Assim, Kairós simboliza o tempo da oportunidade. Momento potencial sentido quando realmente estamos PRESENTES! Uso esse termo para determinar aquele instante em que realmente sentimos o que estamos vivendo e somos invadidos pela experiência. Corpo e alma apenas no AGORA: tempo certo e definitivo, criativo e especial.

No desenrolar entre esses dois tempos é tecida a TEIA DA VIDA, pelas senhoras do destino, conhecidas como MOIRAS na mitologia grega e que são as tecelãs dos fios da vida na roda da fortuna. Nona inicia o trabalho e tece o fio da vida, Décima cuida de sua extensão e caminho e Morta corta o fio. Tarefa que nem mesmo Zeus, deus dos deuses ousava intervir. E assim, a história de cada um vai sendo formada, com seus pontos altos e baixos, de maneira circular e não linear, mas que ao mesmo tempo segue para um fim.

No encontro com essas divindades aprendemos que não somos detentores do tempo e do destino. Nosso tempo é finito e precisamos estar preparados para aproveitar as oportunidades no momento em que elas chegarem. Precisamos estar prontos.  E é com esse olhar e objetivo que devemos trilhar nossa jornada existencial. Afinal, quando o jardim está florido e bem cuidado as borboletas chegam!

Marcela Bianco

Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Junguiana formada pela UFSCar. Especialista em Psicoterapia de Abordagem Junguiana associada à Técnicas de Trabalho Corporal pelo Sedes Sapientiae e em Gerontologia pelo HSPE. CRP: 06/77338

Recent Posts

SBT explica por que episódio de Chaves ficou quase 50 anos inédito na TV

Episódio especial de Natal de “Chaves” nunca tinha passado na TV aberta (até ontem!) —…

5 horas ago

Saiba como o SBT se saiu no Ibope após trocar Zezé di Camargo por episódio inédito de Chaves

⚠️ Após polêmica, SBT trocou Zezé por Chaves de última hora — e o Ibope…

5 horas ago

Arcebispo de São Paulo se manifesta pela 1ª vez após silenciar Padre Júlio Lancellotti

Você não vai acreditar na justificativa que Dom Odilo deu sobre o caso 😒

6 horas ago

AGORA! Zezé DiCamargo se recusa a se retratar, e filhas de Silvio Santos entram com processo contra o cantor

Você não vai acreditar no montante que o cantor pode perder na Justiça 😱

3 dias ago

SBT acaba de tomar decisão bombástica sobre o Especial de Natal de Zezé Di Camargo

Especial de Natal de Zezé Di Camargo vira dor de cabeça e SBT toma decisão…

3 dias ago