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Troquei a capa pesada por um vestido soltinho

Cansei de tentar ter um argumento para tudo. Cansei de explicar e me explicar coisas que não se explicam, que não tenho capacidade de entender, coisas que muitas vezes me geraram muito trabalho e pouco ou nenhum proveito. Cansei de arrumar explicação para os tropeços alheios, desculpas para não sentir raiva, argumentos psicológicos para proteger imagens e mitos.

Me dei conta que esse universo de argumentos prontinhos é uma capa pesadona, cheia de bolsos, internos, externos, secretos… Com ela, realmente me sentia agasalhada e protegida, mas andava lenta, sem mobilidade, vasculhando como louca todos os bolsos, tentando achar as explicações perdidas no meio dos infinitos bolsos. E chegou um tempo que não sabia mais como tirar a capa, pois os zíperes emperraram, e, com má vontade tentei uma, duas vezes, e então desisti. – Sou assim mesmo – decretei.

Claro que agora não é questão invalidar os argumentos. Afinal, me custaram muito tempo e miolos para realizar algumas conclusões e alguns deles eu vaidosamente considero brilhantes. E é óbvio que são essenciais para dar sentido às discussões. Mas, reconheço que, se por um lado muitos deles são totalmente válidos, uma parcela gigantesca pode muito bem ser dispensada do acervo, liberando peso e espaço. Os mais antigos, os que não se aplicam mais, os que levam às desculpas tolas, os que não me dizem respeito mas que eu achei um jeito de me inserir…

Decidi não ousar mais tentar ter ou ser resposta para tudo e todos. Não quero ser lembrada ou reconhecida como conselheira, razoável, mediadora, nada disso. Quero ter o direito de uso do ponto de interrogação; Quero me proporcionar a liberdade de dizer: – Não sei – quantas vezes tiver vontade; Quero não me ocupar de entender o que não faço questão de entender.

Decidi portanto, arrancar e rasgar a capa pesada e com manchas do tempo e trocar por um vestidinho de alça, solto, leve e cheirando a novo. Acho até que posso vir a sentir frio, mas para poder me proteger, vou tentar um xalezinho, um esfregar de mãos, um abraço. Ou tudo isso junto ao mesmo tempo. Afinal, frio mesmo a gente só sente quando está só, isolado por certezas. Na dúvida, tem sempre alguém por perto, sentindo o mesmo.

Emilia Freire

Administradora, dona de casa e da própria vida, gateira, escreve com muito prazer e pretende somente se (des)cobrir com palavras. As ditas, as escritas, as cantadas e até as caladas.

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