Está comprovado que a solidão pode provocar graves problemas de saúde. Pesquisa feita pelo psicólogo americano John Cacioppo, do Centro de Neurociência Cognitiva e Social da Universidade de Chicago, publicada no jornal Daily Mail, concluiu que ser solitário é tão danoso quanto o hábito de fumar ou de beber. Vivenciar constante solidão aumenta os níveis de cortisol (hormônio do estresse) e da pressão arterial, levando à zona de perigo de ataque cardíaco e acidente vascular cerebral (AVC), afeta a imunidade, prejudica o sono e pode acelerar o processo de demência. O psicólogo explica que contribui as pessoas casarem mais tarde, terem menos filhos e ser mais difícil fazer amigos na idade adulta.
Estar sozinho muitas vezes é uma condição temporária, que não causa sofrimento. Os motivos são vários, como necessidade de relaxar, se reciclar e descansar de pressões e estímulos a que todos são expostos constantemente. A solidão pode ser circunstancial, consequência da fase de vida, como separação, mudança de cidade, de trabalho, uma opção de morar só, ou ter relação com características da pessoa independente, que tem dificuldade de dividir seu espaço e dedicar atenção a outro. Fica-se mais só também com a idade, pois, com o passar do tempo, a rede social diminui, pela perda de familiares e amigos.
A solidão que não se escolhe nem se deseja é a mais dolorosa. Viuvez, afastamento dos filhos e de outros familiares, distância de amigos, aposentadoria, doenças e impossibilidade física ou psicológica de manter atividades prazerosas podem ocasionar isolamento. Desesperança em relação ao futuro, incapacidade de ver soluções para os problemas, medo, somados à sensação de que ninguém pode ajudar, aumentam o isolamento e podem resultar em comportamentos autodestrutivos, como abuso de álcool, e levar à depressão e, em casos extremos, ao suicídio.
É comum confundir solidão com estar sozinho, por falta de um relacionamento afetivo, ou por morar sozinho. Mas para além da situação concreta de se estar só, solidão é um sentimento mais complexo e independe de condições externas: o indivíduo pode viver cercado de gente e se sentir a criatura mais sozinha do mundo. Por quê? Se a pessoa não se conhece, não sabe trabalhar suas emoções e tem dificuldade de se ligar emocionalmente, viverá uma extrema solidão, mesmo tendo agenda cheia de compromissos. A solidão começa, portanto, dentro de cada um.

O autoconhecimento é o primeiro passo para compreender uma situação insatisfatória. No caso da solidão, é indicado refletir se ela é resultado da forma de se colocar no mundo e se comunicar com as pessoas. Há coerência entre o que se fala e o que se faz? Ser honesto não é dizer tudo que passa na cabeça, assim como não se deve supor que os outros vão adivinhar as suas necessidades. Uma disposição franca, assertiva, coração e mente abertos para se travar conhecimentos, sem receio ou preconceitos, são pré-requisitos para estabelecer relações de qualquer tipo.
Se a solidão está dentro do indivíduo, a terapia é o caminho para iniciar um diálogo interno que o capacitará a lidar melhor consigo mesmo e com os outros. O processo terapêutico auxilia o sujeito a encarar as próprias limitações e desenvolver habilidades condizentes com características de temperamento. Isto significa trabalhar com o que já existe e aprender modos mais adaptativos, socialmente falando. A solidão não precisa ser falta de opção.

Maria Cristina Ramos Britto

Psicóloga com especialização em terapia cognitivo-comportamental, trabalha com obesidade, compulsão alimentar e outras compulsões, depressão, transtornos de ansiedade e tudo o mais que provoca sofrimento psíquico. Acredita que a terapia tem por objetivo possibilitar que as pessoas sejam mais conscientes de si mesmas e felizes. Atende no Rio de Janeiro. CRP 05/34753. Contatos através do blog Saúde Mente e Corpo.

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