Ana Macarini

Sobre ter de sorrir quando se está em frangalhos

Os outros apenas nos imaginam. Olham para nossa camada mais superficial – aquela capa de força que usamos para enfrentar o mundo -, e tecem sobre nós as mais fantasiosas conjecturas.

Já cansei de ouvir de bocas muito bem-intencionadas a frase: “Mas, você é tão forte!”. Não, eu não sou forte. Pelo menos, não todas as vinte e quatro horas do dia. Sou forte, muitas vezes, porque tenho de ser, porque é o que esperam de mim, porque não há outra alternativa.

E assim acontece com todos nós. Quantas vezes não saímos da cama de manhã por falta de escolha? Quantas vezes não ofertamos um sorriso porque não temos condições de mais nada? Quantas vezes não calamos nossa voz, simplesmente porque não há nada de bom para se dizer?

Somos todos sobreviventes. E ainda temos de lidar com a culpa real de entendermos que há milhões de pessoas em situação muito, muito pior do que a nossa.

Penso que para aqueles que têm algum tipo de apego às religiões ou a Deus, a coisa fique um tantinho menos penosa. Deve ser um real alento acreditar que há alguém ou algo acima de nós com poderes sobrenaturais, e que seja capaz de nos ajudar a carregar o peso da bagagem.

Deve ser bom acreditar que ao ficar de joelhos e orar, há um ser supremo que nos olhe e escute e que venha aliviar o nosso coração. Sorte dos que creem, penso eu… Porque não crer gera uma enorme solidão.

Crer-se por conta própria nesse mundo aumenta um bocado a carga de responsabilidade. Conta-se com os semelhantes para carregar o jugo de cada dia. Só que os semelhantes têm seus próprios pesos a carregar; raramente estão disponíveis para estender a mão, emprestar um ombro ou oferecer alguma escuta amorosa.

Porque tem hora que só precisamos mesmo é desaguar. Botar para fora um pouco dos rejeitos internos, dividir, esvaziar.

Este texto é sobre os corajosos que juntam seus caquinhos de manhã para dar conta da vida e, de alguma forma miraculosamente incrível, retornam às suas casas inteiros no final do dia.

Este texto é para você que, apesar da dor, encontra um jeito de permanecer de pé. Porque há dias que estar de pé é simplesmente um feito extraordinariamente heroico!

Ana Macarini

"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"

Recent Posts

Amor, interesse e jogo psicológico: o filme da Netflix que incomoda sem pedir licença — e acerta onde dói

Parece comédia romântica, mas este filme da Netflix joga sujo com amor e dinheiro ❤️‍🔥💸

8 horas ago

Nova técnica criada no Brasil contra o câncer de mama, que congela tumor com nitrogênio líquido, atinge 100% de eficácia

🎗️ Tumor congelado a −140 °C: técnica contra câncer de mama tem 100% de eficácia…

8 horas ago

Após eliminar 75 kg, Thais Carla impressiona seguidores com transformação das curvas do corpo; veja antes x depois

Thais Carla mostra novo corpo após eliminar 75 kg e antes x depois deixa a…

8 horas ago

Olhe para seus dedos agora: o formato deles pode revelar traços da sua personalidade que você nunca percebeu

🖐️ Faça o teste: o formato dos seus dedos pode revelar traços da sua personalidade…

9 horas ago

SBT explica por que episódio de Chaves ficou quase 50 anos inédito na TV

Episódio especial de Natal de “Chaves” nunca tinha passado na TV aberta (até ontem!) —…

15 horas ago

Saiba como o SBT se saiu no Ibope após trocar Zezé di Camargo por episódio inédito de Chaves

⚠️ Após polêmica, SBT trocou Zezé por Chaves de última hora — e o Ibope…

15 horas ago